02 agosto 2006

Sandokai - 3º Comentário de Suzuki

Quando eu digo ver coisas-como-é, quero dizer praticar com firmeza com nossos desejos – não livrar-nos dos desejos, mas levá-los em conta. Se você tiver um computador, você deve entrar com todos os dados: este tanto de desejo, este tanto de comida, este tipo de cor, este tanto de peso. Nós devemos incluir nossos desejos como um dos muitos fatores para a ver as coisas-como-é. Nem sempre refletimos sobre nossos desejos. Sem parar para refletir sobre nosso julgamento egoísta, dizemos “Ele é bom” ou “Ele é mau”. Mas alguém que é mau para mim, não é necessariamente sempre mau. Para outro alguém, pode ser uma boa pessoa. Ao refletir desta maneira, podemos ver as coisas-como-é. Isto é mente buda.
O poema começa com Chikudo daisen no shin, que significa “a mente do grande sábio da Índia”. Essa é a grande mente de Buda que tudo inclui. A mente que possuímos quando praticamos zazen é a grande mente: não tentamos ver nada. Paramos com o pensamento conceitual, paramos a atividade emocional, simplesmente sentamos. É como algo acontecendo no grande céu. Qualquer que seja o tipo de pássaro que nele voa, o céu não liga. Essa é a mente transmitida do Buda para nós. Muitas coisas acontecem quando você senta. Você pode ouvir o som de um córrego, pode pensar em algo, mas sua mente não liga. Sua grande mente está ali simplesmente sentando. Mesmo quando você não está se dando conta do que está vendo, ouvindo ou pensando, algo está acontecendo na sua grande mente. Observamos coisas. Sem dizer “bom” ou “mau”, simplesmente sentamos. Apreciamos as coisas mas não temos nenhum apego a elas. Nós as apreciamos completamente nesta ocasião, é tudo. Depois do zazen, dizemos, “Oh, bom-dia!” Desse modo, as coisas, uma após a outra, acontecerão para nós e seremos capazes de apreciá-las plenamente. Essa é a mente transmitida de Buda. E essa é a maneira que praticamos zazen.

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