26 fevereiro 2011

Fukanzazengi - 25º Comentário de Coupey

Assim, ...., desistamos mesmo da idéia de nos tornar Buda.
Isto quer dizer que é preciso interromper com todas as interpretações intelctuais através de reflexões a propósito de Buda, pensamentos ou imagens de Buda, ou, se preferirem, imagens de pureza, de Deus. Isso está bem descrito num mondo muito antigo entre Nangaku e seu discípulo Baso, sentado em zazen:
"Fazes zazen, mas o fazes com alguma finalidade?, pergunta o mestre.
- Faço zazen para tornar-me buda, responde o discípulo.
Nangaku pega uma telha e começa a poli-la diante do olhar estupefato de Baso.
- O que fazes, Mestre?
- Trato de polir uma telha para que se torne um espelho.
- Ih!, isto não é possível...!"
 
Não percam o seu tempo. Não procurem tornar-se buda, não busquem a pureza. Não busquem. Ou como diz Mestre Sozan no Shinjinmei: "Não busqueis a verdade".

19 fevereiro 2011

Fukanzazengi - 24º Comentário de Coupey



Assim, tendo detido as várias funções da mente ...

Dogen diz "detido", "parado", mas, na verdade, penso que não se pode deter as funções da mente. Quem realmente pode parar seus pensamentos que começam a se encadear? Acho que ninguém é capaz, a menos que pratique algum tipo de mortificação, de ascetismo no qual se imporia proibições, o que certamente não é o caso de nossa linhagem. Ao contrário, podemos observar os movimentos da mente e acalmá-los, transformá-los. E para isso é conveniente não escolher. Como se param todas as funções da mente consciente? Não tendo nenhum pensamento pessoal. Não tomando partido "a favor ou contra", não fazendo discriminação entre a favor e contra, entre correto e falso. Sobretudo nada "querendo", nem mesmo "deter" o que quer que seja, pois isto já é um pensamento pessoal. Então tendo detido as várias funções da mente significa simplesmente que não se deixem guiar por suas consciências pessoais, o que é perfeitamente possível durante o zazen.

Como está dito no Sanshodoei, coleção de poemas:

"Sem sujeira, na água da mente reside a claridade da lua.
Até as ondas aí se quebram e se transformam em luz".

Mestre Deshimaru dizia: "Vocês têm que interromper a progressão, interromper a difusão de nensokan, a consciência do instante". Nen quer dizer "consciência", so, "pensar", e kan significa "observação". Pois, se mantivermos essa consciência, isso se transforma em pensamento, imagem. Então, se conseguirmos simples e naturalmente deter essas funções, e isso sem querer deter o que quer que seja, podemos tornar-nos fortes e não ficaremos mais desesperados. Mestre Deshimaru dizia zempre, "Strong. You must be strongs! fortes!" Ele falava assim mas não era "macho". "Strong" para ele não queria dizer de maneira alguma tornar-se forte no karma, mas forte através de uma confiança e uma fé inquebrantável no sistema cósmico. "Strong" como a natureza, como as árvores, como as flores. "Strong" como as borboletas.

13 fevereiro 2011

Plantando bambus

T: Para quê o Mestre Tokuda veio para o Brasil?
Kyosen: Para plantar bambus.

Fukanzazengi - 23º Comentário de Coupey

Deixando tudo de lado, ........, nem no certo, nem no errado.

Nem certo, nem errado. Todo o mundo que praticou, ainda que tenha praticado pouco zazen, sabe disso. Esse é um assunto que atravessa todos os texto antigos e contemporâneos do zen. No seu Shinjinmei, por exemplo, Sozan disse isso inúmeras vezes e de diferentes maneiras. Eis a vigésima segunda estrofe:
"Se nos restar a menor noção de verdadeiro ou falso,
 nossa mente naufraga na confusão"
Não tomar partido contra ou a favor, não achar que isso é certo, isso é errado, parece fácil durante o zazen, mas quando se sai do dojo, torna-se muito mais difícil... Imediatamente a gente começa a excluir qualquer coisa ou qualquer pessoa,  para incluir a si próprio, a gente se põe a defender um lado e, quando se defende um lado, rejeita-se o outro. Assim, durante todo o dia, tomamos partido. E, geralmente, é  pelo lado que nos favorece naquele momento preciso. Sem cessar, nós nos defendemos: "Eu tenho razão, ela está errada...", ou "Isso não é justo, não é honesto...". Basta nos observarmos um pouco para notar não apenas em que ponto estamos tomando partido contra ou a favor, mas também em que ponto, no mesmo instante, estamos verdadeiramente mergulhados na confusão. Observarmo-nos assim é a prática do zazen fora do dojo - mesma mente. E, se nos observamos atentamente, com frequencia nos desesperamos. Dizemo-nos, "Puxa..., eu pratico há quinze, vinte anos e estou sempre nessa mesma confusão - justo, falso, com razão, errado....". Começamos a pensar que o zazen "não funciona"... E é verdade, não funciona.

Então, qual a vantagem de praticar dessa forma, dado que "isso não funciona"? Mas não penso que essa prática possa nos conduzir ao que quer que seja, se queremos que "isso funcione". Lembrem-se da famosa frase de Jinshu: "É preciso limpar continuamente o espelho". Esse não é o zen que praticamos. Em um dos seus kusen, Mestre Deshimaru disse um dia: "Porque Jinshu não recebeu a transmissão? É preciso que meus discípulos compreendam". Para nós não existe nada como o "zazen progressivo". Tudo se passa agora. É a posição de Eno quando dizia,  "Não há espelho. Nada a limpar".

Monja Mariangela Ryosen visita Templo Zen do Jardim Botânico