21 dezembro 2007

A Palavra Aberta de Lo-Chan

O senhor Min Wang mandou construir um mosteiro para Lo Chan e lhe pediu que pronunciasse o primeiro sermão na sala de reuniões. Enquanto mestre daquela instituição, Lo Chan sentou-se numa cadeira e não pronunciou uma só palavra, se é que isto não é "adeus", antes de regressar a seu quarto. O senhor Min Wang aproximou-se e disse-lhe:

- Nem mesmo o sermão de Buda na montanha de Gradharkuta conseguiu ultrapassar o que ensinastes hoje.

- Pensava que fostes estranho ao zen, mas descubro agora que sabeis alguma coisa, respondeu L0 Chan.

Comentário de Nyogen: Esses dois homens viviam na China no século VIII, mas revelam ainda hoje - com que perfeição! - a beleza da incompletude àqueles que sabem apreciar as coisas interiores. Habitualmente, em um templo budista, encontra-se uma estátua de Buda sobre o altar. Mas um verdadeiro templo zen não possui nenhuma imagem. Um mestre toma o lugar de Buda, e se serve do altar como uma cátedra. Carrega consigo o manto que sua genealogia lhe legou, veste-o antes de seu sermão e despe-se imediatamente depois. Nosso Lo Chan deve ter feito o mesmo. O original chinês diz, "Ele ganhou seu assento, vestiu seu manto, levantou-se e disse 'adeus'. E este foi o fim de seu sermão". Que justeza na ação! Mas sobretudo, que nenhum noviço venha a imitá-lo! Isto seria pior do que venerar uma estátua de Buda. A iconoclastia, quando é apenas uma reação, acaba por aprisioná-lo numa torre de marfim. Destruir essa torre de marfim, eis a verdadeira iconoclastia. Se o senhor Min Wang fosse mais adiantado no zen, teria, sem dúvida, manifestado sua decepção de não ter compreendido o ensinamento do mestre, ainda que ele tenha captado perfeitamente a mensagem silenciosa de Lo Chan.

O crescimento de um mosteiro é tão lento e invisível quanto o das árvores e arbustos que o cercam. O mestre, os monges e os doadores plantam suas sementes mas não vêem a floração final. Porque não se alegrar simplesmente dedicando o dia presente à meditação? Tal é o ensinamento de Lo Chan, herdeiro do Buda, através de gerações de discípulos.

Quando dei meus primeiros passos nesta modesta sala, não havia nenhuma imagem de Buda, nenhum móvel, exceto um banco de piano. Sentei-me em silêncio naquele banco e juntei minhas mãos, palma contra palma. Aquele foi meu primeiro ensinamento neste zendô, e todos os que se seguiram desde então nada mais foram do que comentários. Se algum de vocês pensa em fazer conferências ou escrever ensaios sobre o zen, que se lembre desta história e que aprenda a dizer "adeus" alegremente.