27 julho 2010


doc Zen soto - I. Ici et Maintenant - 5/5
Enviado por munduteguyf. - Noticias em video na hora

Fukanzazengi - 5º Comentário de Coupey



Contudo, o fato é que se houver a menor diferença desde o começo, entre você e o caminho, o resultado será uma separação maior ainda que aquela entre ceú e terra.

Essa frase do Fukanzazengi não é difícil de entender. Se uma distância da espessura de um fio de cabelo é criada, o Si não coincide mais com o ego. Ou buda, Deus, não coincide mais com o eu. A relação entre buda e eu é não-dois – não dois, mas um, e, finalmente, nem mesmo um. No começo a separação entre buda e nosso pequeno ego desaparece, depois não há mais um, não há mais subjetivo, nem sujeito, nem objeto.

É a fé verdadeira. Mas alguns em suas práticas criam uma distância cada vez maior entre buda e eles. Se no início existir uma pequenina diferença, se não se manifesta um autêntico sho shin, espírito do iniciante, em seguida, mil quilômetros separarão buda e eu. Criamos confusão em nosso espírito, criamos um sujeito que criou seu objeto.

Mas isso não quer dizer, ao contrário do que se ouve na religião cristã e às vezes em certas escolas zen, que é preciso se desembaraçar do ego. No livro de um mestre zen que vive hoje em dia nos Estados Unidos, li à repetição que a finalidade de nossa prática consistiria em reduzir o tamanho de nosso ego até que ele desaparecesse. Isto é completamente infantil. Li também um livro sobre a religião cristã que diz a mesma coisa, que é importante se desembaraçar do ego tornando-o cada vez menor.

Gonyo era um dos discípulos de Joshu, um monge muito sério.
Um dia, disse a seu mestre:
- Vim com nada. Que devo fazer em tal situação?
Muitos mestres, naquela época, teriam golpeado o monge, “Paf! Desperte, idiota!” Mas Joshu, que era muito doce, simplesmente respondeu:
- Jogue fora! (este “Jogue fora!” é semelhante ao “nenhum espelho, nenhuma poeira” de Eno).
Gonyo não compreendeu o que queria dizer seu mestre:
- Mas acabo de dizer que vim sem nada! O que quereis que jogue fora?
Joshu, que não pretendia ser malicioso, nem intelectual, e ainda menos brilhante, simplesmente respondeu:
- Nesse caso, jogue fora! Jogue fora tudo isso!

O espírito de Gonyo separava o céu e a terra. Depois de anos e anos de prática ele tinha a impressão de ter conseguido diminuir seu ego, e por isso, dizia a Joshu: “Veja, Mestre, não tenho mais nada!”

Talvez Gonyo quisesse mostrar que havia compreendido alguma coisa: “Mestre, observa-me! Eu também joguei tudo fora, compreendi...” Porém, reconhecer sua própria sabedoria ou compreensão, sua própria natureza de buda, nada mais é do seguir os passos dos outros. O zen não tem traços, odor e, se alguém é “muito zen”, não o é de fato... Dizer “eu nada tenho” ou “tive o satori” é, paradoxalmente, uma posição orgulhosa que obstrui o espírito. Os mestres frequentemente se confrontaram com isso. Um dia, tive uma conversa com alguém que me disse:
- Tive o satori!
- E daí? O que você vai fazer com seu satori?
- Ah, nada...
- Então não precisava tê-lo tido...

Além disso, se pensarmos no tamanho de nosso ego, é melhor tê-lo grande do que pequeno... Mestre Deshimaru frequentemente dizia; “Tenho um super-ego, tão grande quanto o cosmo. Meu ego é o maior do mundo!” Nesse momento, nenhum sujeito, nenhum objeto... É a mesma coisa que Buda diz, “Quando tive o satori, todos os seres tiveram o satori. Comigo, toda a terra despertou.”

O cão de Joshu

Um monge perguntou ao mestre Zen chinês Joshu:
- O cão tem ou não natureza-Buda?
Joshu respondeu:
Mu.
Comentário de Mumon:

Para realizar o Zen, devemos ultrapassar a barreira dos patriarcas. A iluminação sempre surge depois da estrada do pensamento ser bloqueada. Se você não ultrapassar a barreira dos patriarcas ou se a estrada de seu pensamento não estiver bloqueada, o que quer que você pense, o que quer que você faça, será como um fantasma emaranhado. Você pode perguntar, "Qual é a barreira dos patriarcas?" Esta única palavra, Mu, é o que ela é.

Essa é a barreira do Zen. Você verá Joshu face a face se você passar através dela. Então você poderá trabalhar de mãos dadas com toda a linhagem dos patriarcas. Isso não é alguma coisa agradável de ser feita?

Se você quiser vencer essa barreira, você deve fazer penetrar em todos os ossos de seu corpo, em todos os poros de sua pele, esta pergunta: "O que é Mu?" e carregá-la dia e noite. Não creia que é simplesmente o símbolo negativo querendo dizer nada. Não é o nada, oposto da existência. Se você quer realmente vencer essa barreira, você deve sentir como se estivesse bebendo uma bola de ferro quente que você não bode nem engolir nem cuspir.

Então seu conhecimento inferior de antes desaparece. Como um fruto que amadurece na estação, sua objetividade e sua subjetividade tornam-se unas. É como um mudo que teve um sonho. Ele sabe mas não pode contar.

Quando ele penetra nessa condição seu ego-concha é esmagado e ele pode sacudir o céu e mover a terra. Ele é como um grande guerreiro com uma espada afiada. Se um Buda se coloca em seu caminho, ele o abaterá; se um patriarca lhe opõe obstáculo, ele o matará; e ele será livre no seu caminho de nascimento e morte. Ele pode entrar em qualquer mundo como se estivesse em seu próprio pátio de recreio. Eu lhe direi como fazer com esse koan:

Apenas concentre toda a sua energia neste Mu, e não permita nenhuma interrupção. Quando você penetrar este Mu e não houver interrupção, o que você terá alcançado será como vela que arde e ilumina todo o universo.

Tem um cão natureza-Buda?
Esta é a questão mais séria de todas.
Se você disser sim ou não,
Você perde sua própria natureza-Buda.

18 julho 2010

Fukanzazengi - 4º comentário de Coupey

O Caminho está completamente presente onde estás. Porque ir aqui ou acolá para praticar?

O Caminho está onde estamos. Porque ir aqui ou acolá? Não há um discípulo que não conheça essa lição. Encontramo-la por toda a parte. No Shinjinmei, por exemplo, a estrofe 34 nos diz:

“Se vos expressardes livremente, isso se torna natural.
No corpo, não há qualquer lugar aonde ir ou permanecer.”

Queremos sempre ir a algum lugar. Partir em férias, para a montanha, para o mar, para o exterior. E, se não pudermos, mudar, de casa, para qualquer coisa melhor... Ou, ao contrário, queremos sempre permanecer, ficar onde estamos, não nos mexermos. Queremos ficar no mesmo lugar e não escalar a montanha, chegar ao cume. Queremos permanecer em nosso conforto. Isto é difícil de ultrapassar. Alguns que se consideram maus, querem tornar-se bons; outros que se acham bons demais querem ser percebidos como um pouco malvados...

O lugar que ocupamos durante o zazen não mede mais do que um metro quadrado. Apesar disso, pela prática correta, se não seguirmos nossos pensamentos pessoais, esse metro quadrado contém o universo inteiro. Então, onde querem ir? Onde querem ficar?

Antes de termos encontrado a prática, o mestre, o Caminho, queremos ir procurar em países longínquos. Alguns foram buscar os traços de Don Juan Matus, o sábio mexicano de Carlos Castañeda. Outros partiram para a Índia, para o Tibete, para o Japão. Mestre Deshimaru dizia, “Bem, de acordo, vocês querem ir ao Japão? Então vão como turistas ou em viagem de negócios, mas não percam seu tempo para ir lá para buscar o Caminho. Se quiserem visitar os templos, carreguem uma câmera fotográfica. Entrem pela porta da frente, atravessem o templo, passem ali uns dez a quinze minutos, isso basta... e saiam pelo outro lado!”

Venerar o que é mais elevado em nós mesmos nos faz praticar lá onde estamos. Um ditado taoísta muito conhecido nos diz: “O grande sábio vive na rua, o pequeno sábio entra na montanha”. Não venerem o dojo, nem a estátua de Buda, nem a foto do mestre sobre o altar, mas venerem o que há de mais elevado em vocês mesmos, o que está além de todo conceito pessoal.

Então porque ir aqui ou acolá para praticar?

Essa ideia é repetida em muitos sutras. No Sutra do Lotus, por exemplo, está dito que a verdade está bem próxima, bem perto, que ela não é nem complicada, nem longínqua, mas que nós simplesmente não somos capazes de vê-la... Com efeito, queremos sempre buscar longe. Queremos sempre definir – definir o satori, por exemplo. Mas defini-lo é dele nos afastarmos. Queremos sempre escapar de onde estamos, apenas evitar o aqui, evitar o agora. E, depois, inversamente, queremos voltar sobre os nossos próprios passos, mas não podemos mais, e então sentimos remorsos, pois pensamos que teria sido melhor... Eu frequentemente ouvi antigos praticantes dizerem que “na época do Mestre Deshimaru era melhor”. Mas os que não conheceram o Mestre Deshimaru crêem que na época de tal ou qual discípulo do Mestre Deshimaru era melhor... Um dia, alguém me disse que era melhor a época do dojo de Keller do que agora na rua Tolbiac. É a verdade que se afasta. É niho, dois elementos. Ni quer dizer “dois”; ho quer dizer “dharma, existência”.

04 julho 2010

Fukanzazengi - 3º Comentário de Coupey (continuação)

Mestre Sosan escreveu: “Não procure a verdade. Contente-se em parar os ken”. Ken quer dizer “opinião, julgamento”. Ken vem de nosso ego individual, de nosso pequeno si, e é esse ego que separa ilusão e realidade. Cada um, evidentemente, tem suas opiniões, seus gostos, seus desgostos, mas é importante realizar que isso é apenas pessoal. Podemos então compreender que não há espelho: ku. E, portanto, não há lugar onde a poeira possa se depositar.

Finalmente o debate entre as posições de Eno e Jinshu toca numa questão de consciência: enquanto para Eno trata-se de girar a consciência em 180 graus, para Jinshu trata-se mais de progredir dia após dia. Jinshu foi o primeiro discípulo de Konin. Ele compreendia absolutamente tudo – como fazer as cerimônias, do que tratava esse ou aquele sutra, por exemplo – mas nunca se tornaria num verdadeiro mestre. Eno foi esse verdadeiro mestre, e Konin o reconheceu ao lhe transmitir seu kesa que é a essência secreta passando entre o mestre e o discípulo – kesa e tijela.

Em uma história zen, um mestre manda seu discípulo trepar num mastro de dez metros de altura. Quando ele chega ao topo, o mestre lhe diz, “Não acabou! Continue a subir!” Jinshu subiu em um mastro de dez metros e ele subiu dez metros. Eno, por sua vez, subiu onze metros em dez... Isto quer dizer que ele não subiu em nada. Eis nosso ensinamento.

Apesar disso, eu sempre tive um fraco por Jinshu por duas razões: primeiro, porque ele ensinava a prática do zazen dia e noite. Venham praticar no dojo, e como dizia Mestre Joshu, “Se em dez anos vocês não encontrarem o verdadeiro Caminho, podem cortar minha cabeça e dela se servirem como uma pia”; em seguida, porque fiquei impressionado ao saber que foi graças a Jinshu que o povo chinês ficou dispensado da obrigação de se prostrar diante dos pais. Anteriormente, quando se desejava falar com seu pai ou sua mãe, era necessário antes se prostrar no solo diante deles... Essa era a tradição e foi graças a Jinshu que esse gesto encontrou sua verdadeira dimensão – o que se chama sanpai: toca-se o solo com a testa, em respeito ao buda, ao coração de todo homem, mulher, criança, animal.