29 setembro 2008


E que disseram os rubis
ante o suco das romãs?
(Neruda)
Por que o chapéu da noite
voa com tantos buracos?
(Neruda)

28 setembro 2008

Hokyo Zanmai - 18º Comentário de Deshimaru

É inocente e misterioso,
Não pertence nem à ilusão
Nem ao satori.
O sujeito oculto é o Caminho, zazen, que se pratica aqui e agora, existência universal, sem artifícios.
No primeiro volume do Shobogenzo, o Bendowa, Mestre Dogen escreveu: "Este Caminho foi fruído por cada um, mas se ninguém o praticar, ele não pode se realizar. Ele não pode ser obtido e realizado sem nossa própria certificação, autenticação e compreensão". Se não saborearmos nós mesmos a refeição deliciosa, como poderemos apreciar seu sabor? No Genjo koan, um dos capítulos mais importantes do Shobogenzo, encontra-se uma célebre história:
"Um dia, o Mestre Zen Pao Cha se abanava. Um monge dele se aproximou e fez a seguinte observação:
'A natureza do ar existe por toda a parte e o vento sopra em todos os lugares. Porque usais um leque, Mestre? Porque criais vento?'
O Mestre lhe respondeu:
'Tu apenas sabes que a natureza do ar existe por toda a parte. Apesar disto ignoras porque o vento sopra em todos os lugares!'
O monge então perguntou:
'O que quer dizer: não há lugar onde não sopre o vento?'
O Mestre continuou a se abanar em silêncio. O discípulo inclinou-se profundamente".
Esta história nos ensina que o Caminho, a energia cósmica, está presente em todo o universo. Mas se não a praticarmos com nosso próprio corpo, não a poderemos receber. O vento aqui representa o satori, a verdade cósmica, o despertar, nossa prática do zazen. Instantaneamente, e profundamente, aquele discípulo compreendeu o ensinamento de seu Mestre, fez sampai e saiu da sala. O Mestre guardou silêncio, e o discípulo, muito intuitivo, rapidamente apreendeu o pensamento de seu Mestre. Esse mondo terminou com uma reposta silenciosa.

22 setembro 2008

Ius Chasma


Ius Chasma

The Red Planet is home to Valles Marineris, the solar system's largest canyon. Within this canyon lies Ius Chasma. This image, which spans the floor of its southern trench,m was taken by the Mars Reconnaissance Orbiter. The canyon is well-known for its fine stratigraphic layers modified by wind and water.

The outcrops contain interchanging layers of dark and bright rocks. The layered deposits consist of dark basalt lava flows and bright sedimentary layers. The sediments are likely to be from atmospheric dust, sand or alluvium from an ancient water source. The layers are visible on the gentle slopes above the canyon floor, in pitted areas, and in small mesa buttes. The floor of the canyon is littered with megaripples that are aligned in a north-south direction.

Ius Chasma is believed to have been shaped by a process called sapping when water seeped from the layers of the cliffs and evaporated before it reached the canyon floor. Ius Chasma also has several structural features such as east trending normal faults and grabens that deformed the canyons. Recent geomorphological events include avalanches and minor sapping from gullies that continued to erode the canyon walls.

21 setembro 2008

Hokyo Zanmai - 17º Comentário de Deshimaru



Se estiver misturado,
Há felicidade.
Mas não devemos cometer
Nenhum erro.
Aquele que elimina as ilusões e os impedimentos, que atinge o despertar, toma consciência de que não há nehuma diferença entre o mundo da transmigração e o nirvana, entre os fenômenos e a vacuidade. A grande compaixão consiste, então, emnão procurar permanecer onde quer que seja, seja no satori, no não ter qualquer finalidade, ou se harmonizar com os outros. O individualismo talvez seja necessário para escalar a montanha, mas também é preciso descer! E, na vida quotidiana, se a sabedoria é necessária, também é preciso muita loucura!
Sabedoria e compaixão estão intimamente misturadas, perfeitamente fundidas, da mesma forma que o satori e a ilusão. Buda e nós mesmos, o mestre e o discípulo, o homem e a mulher. Esta mistura íntima, esta fusão perfeita, é a verdadeira felicidade.
O que são essa sabedoria autêntica e essa grande compaixão? Mestre Manzan responde com um poema:
"As nuvens brancas descem no vale profundo e se esvanecem,
Apenas o cume da grande montanha verde se veste no céu".
Quem são as pessoas que têm essa grande compaixão e essa verdadeira sabedoria?
"É um velho eremita de cabelos brancos.
Sua ermida está num vale profundo.
Ele sai, vai até ao mercado da pequena aldeia,
E se mistura intimamente com o povo".
"Ele não vem mais do que não vai.
Buda torna-se como uma criança".
Já se viu, Buda e o bebê têm o mesmo estado de consciência Hishiryo, mas o Buda tem a consciência suprema, enquanto que o bebê não a possui.
Hishiryo é a consciência ampla, sem limites, infinita, cósmica, além das categorias, cuja velocidade é maior que a da luz: em zazen, podemos ir até o fundo do cosmo, e pensar desde o âmago do não-pensamento.

16 setembro 2008

Hokyo Zanmai - 16º Comentário de Deshimaru


É íntimo com a origem,
É familiar com o Caminho.
Eis o caminho para nos ajudarmos uns aos outros. Depois de havermos escalado a montanha do Hannya Haramita, descemos. A subida e a descida são necessárias, sem separação nem dualidade, em completa interdependência. Da mesma forma, a compaixão e a sabedoria se abraçam, se combinam. Se uma aparece à superfície, a outra esconde-se atrás. Elas não são mais separáveis do que as duas faces de uma folha de papel.
Eis aqui a história de Mestre Shinran, Mestre tão célebre quanto Dogen, no tempo de Kamakura. Em sua juventude, Shinran era estudante da Escola Tendai em um templo da montanha Hiei, perto de Kyoto, pendente do lago. Shinran sofria bastante naquele templo, não apenas pela falta de relações sexuais, impossíveis num templo, mas também por conta da dificuldade em resolver problemas da sua vida. Cada dia, ele ia a pé até Kyoto, ao templo de Rokakudo (em japonês Rokakudo significa as seis consciências) e implorava à estátua de Kanon (Avalokitesvara). Uma noite, quando dormia diante da estátua de Kanon, Shinran teve um sonho. Uma mulher muito bonita, uma Kanon muito bela, lhe apareceu vestida em um kesa branco imaculado e completamente cintilante. Tinha em suas mãos uma flor de lótus. Ela lhe disse: "Shinran, teu destino será muito perturbado pelas mulheres... Assim devo ajudar-te e vim unir-me a ti. Serei tua esta noite, celebraremos nosso casamento e, em seguida, tu anunciarás nossa união a todos os seres humanos". Shinran foi pego de surpresa. E foi completamente incapaz de realizar aquela união, estava completamente impotente! Ele quis enxergá-la novamente, mas ela desaparecera... E percebeu uma multidão numerosa que subia o flanco de uma montanha. Seu sonho era a expressão de suas dificuldades da juventude, de monge estudante, com seus problemas sexuais. Ele os resolveu em seguida.
Shinran apaixonou-se por uma princesa deslumbrante e desposou-a. Isto lhe custou a prisão, pois ele violara os kai (preceitos) e faltara com a lei do budismo. E ele foi deportado para um lugar longínquo. Mas, durante sua estadia na prisão, realizou o método de salvação da humanidade. Tornou-se íntimo e familiar com o caminho da compaixão.
À mesma época, Dogen abria no templo de Koshoji, em Uji, um dojo acessível às mulheres, a quem era, então, proibida a prática do zazen.
Esse é um exemplo de intimidade não apenas com a fonte, mas também com o Caminho. No sonho de Shinran, a multidão escalava a montanha e, em seguida, descia. O homem religioso contempla as pessoas do alto da montanha, depois ele desce, e a elas se mistura.

11 setembro 2008


"A água é pura e por isso ela penetra as profundezas da terra. Também quando o peixe nada nessa água, ele é o Peixe".
(Mestre Dogen, Zazenshi, O Espírito de zazen, 8)
quando, quem

08 setembro 2008


"O céu é vasto e transparente até o cosmo. Também o pássaro quando voa, é o Pássaro".
(Mestre Dogen, Zazenshi, O Espírito de zazen, 9)

Hokyo Zanmai - 15º Comentário de Deshimaru


Quando o reto e o oblíquo,
Encontram-se e se prendem
(como as pernas em lótus)
Maravilhosamente há
Pergunta e resposta misturadas.


No Zen, nós olhamos, observamos a natureza como se olhássemos as imagens de uma televisão. Diante de uma tela de televisão ou de cinema, nós sentimos as emoções subjetivas, podemos entrar na televião pelo reflexo. Mas, desligado o botão, o reflexo interrompido, nossos reflexos também terminam e a televisão volta a ser simplesmente uma televisão. Agora, vivemos a natureza e, neste mundo, estamos como que olhando a televisão. É como se estivéssemos "entrados" no programa , vivêsssemos no interior. Nossa visão da criação é subjetiva. Não podemos observar a realidade objetiva. Não podemos observar a realidade objetiva porque somos sempre "reflexo". Enquanto que tudo está em perpétua mudança.

Zazen corta o contato com a televisão. Tudo se esvanece, não há mais nada, o reflexo desaparece. Depois da morte, teremos este olhar objetivo. Devemos observar uma televisão escura. Isto é um koan! Podemos ver, mas não podemos compreender o que será nossa visão depois da morte. Em zazen, digo sempre: "Observar do fundo de seu caixão". É o mundo de Hishiryo.
"Após o fogo a madeira torna-se cinza. A madeira não pode contemplar as cinzas e as cinzas não podem ver a madeira", dizia Dogen. A madeira é o mundo da natureza, da matéria viva. A cinza é a morte, o mundo do espírito. Agora, vivemos uma televisão em movimento, em seguida, veremos uma televisão sem movimento, imóvel, objetiva.