29 abril 2011

Em Ouro Preto, conheça o Templo Zen Pico de Raios




Por Maria Pignata
Foto: Danilo Avelar

O silêncio das montanhas e a história de Ouro Preto

É como se o silêncio tivesse um som e as montanhas e nuvens escrevessem uma paisagem repleta de poesia. Esta é a sensação que se tem ao subir no mirante do Templo Zen Pico de Raios, em Ouro Preto, Minas Gerais. Do local, a quase 1,5 mil metros de altitude é possível ter a visão de 360 graus de toda a área, que abrange o cenário barroco da cidade de Ouro Preto e o Pico Itacolomy de um lado e, do outro, o Parque Municipal das Andorinhas e a imponente Serra do Caraça.

Pico de Raios foi fundado em 1984 pelo Mestre Zen Ryotan Tokuda (www.tokuda-igarashi.net) para a divulgação e a prática do Budismo, tendo sido o local de formação de monges e um dos principais centros de desenvolvimento do Zen no Brasil. Situa-se numa área de cerca de 4 hectares, com jardins, esculturas de Buda( feitas pelo Monge Tabajara Bushi), e um mosaico com a imagem do Buda Shakyamuni, feito de presente pelo consagrado artista mineiro Inimá de Paula.

Nas escadarias, é possível encontrar também desenhos com pedras coloridas e, nas paredes, frases budistas desenhadas em placas de madeira, expressando a pura essência do Zen, como esta do Mestre Obaku (séc 8): “todos os Budas e todos os seres vivos são nada mais que a mente além do qual nada existe. Esta mente é sem começo, é indestrutível e não tem fim. É aquela que você está vendo agora na sua frente. Comece a pensar sobre isso e você imediatamente a perde”.

Não só os ensinamentos budistas, como também a história de Ouro Preto está impregnada em todo ar do Templo Pico de Raios, que está localizado na divisa entre o Morro São Sebastião e o Morro São João, local onde se iniciou a construção de Vila Rica, há mais de 300 anos, e onde se preserva e reverencia a memória dos escravos massacrados na exploração nas minas de ouro. Em homenagem a eles, o templo mantém, a pedido do Mestre Tokuda, a imagem de um Buda Negro, compondo o altar na entrada de uma mina desativada, um dos pontos mais visitados.

A área, principalmente a do mirante do Templo, foi uma das escolhidas pelo Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP - para desenvolver o Projeto Rocha Amiga, coordenado pela professora Adivane Teresinha Costa. “O objetivo é mostrar aos alunos das escolas públicas o patrimônio geológico, cultural e histórico da cidade, uma vez que ali podemos detectar, entre outros, veios auríferos e toda consequente exploração de minérios, através da qual se deu a formação de Ouro Preto”, explica.

O Templo Zen Pico de Raios funciona diariamente com meditação (Zazen)às 6h, seguida de cerimônia budista. É realizado também samu (trabalhos de limpeza de casa e jardim, e à noite, a prática do Zazen é as 19h30. Nos feriados e finais de todos os meses se realizam seshins( retiros) onde é intensificada a meditação. O local oferece hospedagem, destinada a quem deseja conhecer a prática budista. Os hóspedes devem aderir às atividades do templo.
 
Ouro Preto - Como chegar
 
TEMPLO ZEN PICO DE RAIOS

Rua Rio Chuí, 390 Morro São Sebastião - Ouro Preto - MG

Meditação diária às 6h, seguida de cerimônia budista, e as 19h30.

Visitação aos sábados e domingos, das 14h30 às 17h. Taxa: R$ 5,0

Hospedagem destinada à pratica da meditação

Atendimento de shiatsu e acupuntura

Responsáveis: Abade Anibal Jipo e Monja Maria Pignata:
e-mail: mariapignata11@gmail.com 
tel: 31 – 92324238

Como chegar:
De ônibus: da rodoviária, tomar o que vai para o Morro São Sebastião.
Táxi custa em média R$ 15,00
De carro: subir a ladeira João de Paiva (entre a Escola de Minas e a Rodoviária), e na pracinha do Morro São Sebastião, dobrar à direita em direção ao Morro Santana.
ou partir da praça Tiradentes em direção à Mariana, ir pela av. 15 de Agosto, passando pelo Morro de Santana em direção ao Morro São João e Morro São Sebastião.
 

Fukanzazengi - 28º Comentário de Coupey

Coloca-se a mão direita no pé esquerdo, e a mão esquerda em cima da palma direita, com as pontas dos polegares se tocando de leve.





A posição das mãos, como todos os gestos, influencia o cérebro. No zazen as mãos formam um ovo. A borda das mãos é pressionada contra a parte de baixo do abdômen. Os polegares se tocam levemente, sem formar montanha nem vale. A mão esquerda representa ku, o vazio, Deus, o espiritual; a mão direita, shiki, representa os fenômenos, o ego, o material. Colocamos a mão esquerda sobre a mão direita porque "recebemos" o espiritual, não apenas pelo fato da presença do mestre, mas porque estamos sentados juntos em um lugar sagrado. Buda, ao contrário, coloca a mão direita sobre a mão esquerda porque ele "doa" o espiritual. Quando se entra no dojo com o pé esquerdo, é o mesmo: entra-se consciente do espiritual, de ku. Quando se sai com o pé direito, retorna-se ao mundo de shiki, o material. A mão direita representa também a atividade; a mão esquerda, o contrário, a tranquilidade. A mão direita, como o pé direito, representa a prática; a esquerda, a sabedoria. Mas ao fim, a esquerda é a direita, e a direita é a esquerda. Quando colocamos as duas juntas, os pés cruzados, as mãos uma sobre a outra, não mais sabemos qual é qual. Pois zazen e satori são uma só e a mesma coisa.

28 abril 2011

Genjo Koan - Mestre Dogen


Quando todas as coisas e fenômenos existem como ensinamentos budistas, então há ilusão e realização, prática e experiência, vida e morte, budas e pessoas comuns. Quando milhões de coisas e fenômenos estão todos separados de nós mesmos, não há ilusão e não há iluminação, não há budas e não há pessoas comuns, não há vida e não há morte. O budismo originariamente transcende a abundância e a escassez, e assim, na realidade, há vida e morte, há ilusão e realização, há pessoas e budas.
Embora tudo isto seja verdade, as flores fenecem ainda que as amemos, e as ervas daninhas crescem ainda que as odiemos, e isto é tudo.