16 agosto 2006

Sandokai - 4º Comentário de Suzuki

Se você praticar o zazen dessa maneira, é menos provável que você experimente dificuldades quando estiver desfrutando algum evento. Compreende? Você pode ter uma experiência e dizer, “É isso aí! Isto é como as coisas devem ser!” Se alguém discordar de você, você fica aborrecido(a). “Isto deveria ser desta maneira, e não daquela. O Centro Zen deveria ser deste jeito”. Talvez. Mas nem sempre. Se as coisas mudarem, nós perdermos o centro de Tassajara, e nos mudarmos para uma outra montanha, o jeito das coisas que temos aqui não será o mesmo que teremos lá. Assim, sem nos agarrarmos a algum jeito especial, abrimos nossas mentes para observar as coisas-como-é, e aceitar as coisas-como-é. Sem esta base, quando você disser, “esta é a montanha”, “este é meu amigo”, “esta é a lua”, a montanha não será a montanha, meu amigo não será meu amigo, e a lua não será a própria lua. Esta é a diferença entre agarrar-se a algo e o caminho de Buda.

O caminho de Buda é o estudo e o ensinamento da natureza humana, incluindo o quanto estúpidos somos, que tipos de desejos temos, nossas preferências e tendências. Sem nos agarrar a algo, tento lembrar-me da expressão “propenso a”. Somos propensos ou temos uma tendência de fazer algo. Este é o meu lema.

Quando eu estava preparando esta palestra, alguém perguntou-me, “O que é auto-respeito e como podemos adquiri-lo?” Auto-respeito não é algo que você sinta que tem. Quando você sente, “Eu tenho auto-respeito”, isto não é mais auto-respeito. Quando você é apenas você, sem pensar ou tentar dizer alguma coisa em especial, apenas dizendo que você está na sua e como você sente, o auto-respeito existe naturalmente. Quando estou estreitamente relacionado a todos vocês e a todas as coisas, então sou parte de um grande ser inteiro. Quando sinto algo, sou quase uma parte dele, mas não o bastante. Quando você faz uma coisa sem ter o sentimento de ter feito uma coisa, então é você, você mesmo. Você é completamente com todo o mundo e não se sente auto-consciente. Isto é auto-respeito.
Para termos esta prática quotidiana, estudamos muito. Quando alcançamos este lugar, não há nenhuma necessidade de dizer “um ser inteiro” ou “pássaro” ou “muitas coisas que incluem um ser inteiro”. Poderia ser apenas um pássaro ou uma montanha ou o Sandokai. Se você compreender isto, não haverá necessidade de recitar o Sandokai. Embora o recitemos numa forma sino-japonesa, não se trata de japonês ou chinês. É apenas um poema, ou um pássaro, e esta é apenas a minha palestra. Dizemos que o Zen não é algo sobre o qual falar. É o que você experimenta de uma maneira verdadeira. É difícil. Mas de qualquer modo, este é um mundo difícil, não se preocupe. Pode ser muito melhor ter esses problemas de prática do que outros tipos de problemas embaralhados.

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