20 maio 2008

Hokyo Zanmai - 9º Comentário de Deshimaru (1ª parte)

Ainda que não seja sem consciência,
não é sem linguagem.
Ainda que seja inconsciente,
provém da linguagem.
Isto, o dharma, pode tornar-se linguagem, até mais claro que a linguagem, pois isto está além das categorias conceituais. Não se pode explicar o que é ku. Não se pode explicar por shiki. Pode-se explicar o que é shiki pela linguagem, mas ku está além da linguagem. Shiki é visível, ku é invisível, além das categorias. Se apreenderdes, se puderdes apreender os verdadeiros fatos, a linguagem se revela inútil.
O Shin Jin Mei retoma essa idéia:
"Não é necessário falar nem usar a linguagem.
É preciso compreender por trás das palavras, pelo silêncio".
Falar sobre o açúcar não oferece o seu verdadeiro gosto. É preciso comê-lo para conhecer seu sabor. Nas minhas caligrafias, há sempre uma que representa um círculo:
"O vento puro,
A lua plena de beleza,
Impossível pintá-los".
Entre Buda e Buda, a verdade não pode ser explicada, ela está além de todas as categorias.
Entre o homem e a mulher em um leito, a linguagem não é necessária.
O Zen não necessita de linguagem diplomática. Isto se passa de espírito a espírito, mitsu, intimamente, profundamente, secretamente.
Essa frase siginifica: Devemos, no Zen, explicar o impossível pelas linguagem, explicar o inexplicável pelas palavras! É difícil explicar o Zen pela linguagem, apesar de que o Mestre o tenha feito. E Buda compreende as palavras de Buda.
"O caminho da serpente na relva,
Apenas a serpente o compreende".

11 maio 2008

Hokyo Zanmai - 8º Comentário de Deshimaru

É a Lei que governa todas as coisas.
Seu uso remove todos os sofrimentos.

Qual Lei?
"Meia-noite é a verdadeira luz.
A alvorada não é clara".
No Hannya Shingyo, encontramos: "Kan ji zai bosatsu...". Quando o Bodhisatva Avalokitesvara, para realizar a sua verdadeira natureza, praticava a mais elevada sabedoria, tendo observado os cinco skandas, ele compreendeu com uma realidade profunda que os elementos de nosso corpo e de nosso espírito são ku (realidade sem noumeno). Assim ele rejeitou todos os sofrimentos e dificuldades.
Ele disse então a Sariputra: "Neste mundo, o fenômeno (shiki) é ku, ku é igualmente shiki". Assim ku não se diferencia do fenômeno, e o fenômeno não se diferencia de ku.
"Shiki é ku
Ku é shiki".
Quando se atinge o cume de uma montanha difícil de escalar, com os músculos doloridos, os dedos danificados pela escalada, e a perspectiva de logo enfrentar riscos e dificuldades maiores na descida, não se trata de prazer, mas da maior alegria. A rigor, pode-se alcançar o prazer sem pagar o preço de um trabalho rude e penoso, mas não à alegria, esta maravilhosa centelha divina. A falta de sofrimento interdita o acesso à verdadeira felicidade.
O alimento é difícil de encontrar para os animais selvagens. Em nossa sociedade, os elementos da felicidade transformam-se em falsa felicidade. E o shiki soku ze ku não é mais percebido, as pessoas não enxergam além dos fenômenos. Devemos compreender tudo realmente, profundamente. Através desta compreensão, poderemos cortar todos os sofrimentos e oposições.
Meu Mestre Kodo Sawaki sempre dizia:
"O satori autêntico é não-ganho.
A ilusão é ganho.
O satori é satori.
A ilusão é a ilusão.
O não-ganho é o não-ganho".
Se nossa vida torna-se mushotoku, satori, nós conhecemos a verdadeira felicidade, na paz e na liberdade.