25 julho 2009

Hokyo Zanmai - 32º Comentário de Deshimaru

Escondei vossa prática, agi discretamente,
aparentai como um louco ou um idiota.

Estar demasiadamente íntimo, em uma relação estreita demais com a verdade, é uma deficiência para compreendê-la. Nós não podemos ver a montanha quando estamos no cume. Se somos muito íntimos das pessoas, e muito próximos delas, não podemos compreender seus pontos importantes. Mas a verdade longínqua torna-se secreta e misteriosa. Se estamos muito perto do mundo sexual, muito íntimos, a sua importância diminui, em contrapartida, muito longe, o mundo sexual assume um grande significado, e os desejos crescem.

Não ficar muito próximo, não se afastar demais: é o Caminho do meio no budismo.

"Não é preciso perseguir a verdade, nem dela escapar”, lê-se no Shodoka. O Zen não é nem muito íntimo com a verdade, nem muito distante dela. Esta é, sem dúvida, uma aparente contradição, mas é preciso ainda abraçar os extremos.

Mestre Kezan escreveu: "A aparência exterior do monge Zen dever ser como a luz do farol sob o sol do meio-dia”. A montanha e os campos banhados em silêncio, sem movimento, mas a cada ano, a relva viva renasce. A grande terra silenciosa é pesada e imóvel... O monge Soto Zen deve ter o corpo em harmonia com a vida social, e a mente brincando com a criação da natureza.

Eis uma história Taoísta a esse respeito:

Um amigo de So-Tsu disse: "No meu jardim existe uma grande árvore, uma árvore Cho (carvalho). Seus ramos são nodosos, sinuosos, irregulares e os brotos são tão retorcidos que não servem para nada".

Esta árvore cresceu à beira da estrada, e era tão pouco interessante e atraente que ninguém prestava atenção. Não era uma árvore "útil".

Alguns disseram a So-Tsu: "Sua ensinamento é como este carvalho, muito profundo e muito grande, mas pouco útil na vida quotidiana”.

So-Tsu disse: "Você conhece o texugo e seu método de caça? Oculto, achatado no terreno, assiste os ratos brincando e, em seguida, com um salto rápido, pega um. Este animal é muito inteligente e circunspecto. Sua técnica de caça é excelente. No entanto, por vezes, cai nas armadilhas do homem e se deixa matar. O búfalo selvagem, ao contrário do texugo, tem uma cabeça grande como uma nuvem. Não sendo comestível, é perfeitamente desnecessário. Sem inteligência, não conseguindo nem mesmo perseguir um rato, ele se contenta em comer capim. Ele vive sossegadamente em grandes pradarias. Ele não cai em armadilhas como o texugo”.

E So-Tsu continuou: "Perto do caminho, no meu jardim, esta grande árvore inútil ... eu não me importo com ela. Vocês podem replantá-la em um campo nas proximidades ou em outro terreno. Por favor, saboreiem a vida à vontade, facilmente, calmamente, debaixo desta árvore. Esta árvore, inutilizável, nunca será abatida e sua vida será longa. Ela não conhece nem medo nem ansiedade, não se preocupem com ela".

Assim é o monge Zen.

16 julho 2009

Hokyo Zanmai - 31º Comentário de Deshimaru

Não seguir não é o dever filial do filho,
Não obedecer não é ser um verdadeiro súdito.

O filho que não segue o pai não tem nenhum sentimento filial. Os súditos que não obedecem ao rei, não são seus assistentes. Seguir, obedecer, significa, de fato, entrar em harmonia com a ordem cósmica.

Esta ordem tem uma importância essencial. Se ela é esquecida, tudo se quebra, e a felicidade não pode ser alcançada.

10 julho 2009

Hokyo Zanmai - 30º Comentário de Deshimaru

O súdito deve obedecer ao rei,
O filho deve seguir seu pai.


Não há qualquer idéia de feudalismo neste versículo. O Rei é a questão mais importante, a verdade eterna. A essência do Zen.

O Buda disse:

"Quando o rei do espírito é justo
Os seis súditos não são
Nem bem nem mal".

Os “seis súditos”: olhos, orelhas, nariz, língua, corpo e consciência constituem as ilusões e paixões, ou bonnos.

O verdadeiro Rei não pensa sobre seu estado de rei. O verdadeiro Buda não pensa se ele é Buda. Este é o verdadeiro Hishiryo, o "Rei do Samadhi", guardado numerosos súditos.

Numa conferência realizada no Templo de Eihei-ji, as primeiras palavras de Dogen foram estas:

"A preeminência não é nem útil nem eficaz.
Não é necessário, apesar de estarmos adiantados,
concorrermos com os outros discípulos.
Não devemos esperar o grande Satori.
Apenas praticar Dokan, o anel do Caminho.
A incessante continuidade é essencial.
Plenitude, sem falta."

Tudo se torna Dokan, pois o za-zen cria o enredo da vida diária, guia nossas vidas, dia após dia.
Os servos, os súdiots desejam apreender a posição de Rei. Mas eles não podem, porque só um rei pode compreender o segredo desta posição.

Apenas um Buda compreende outro Buda.

O Rei nem sempre é um rei. Os bonnos aparecem. Ele quer comer... fazer amor... ele está triste ... ele se lamenta... É seguir os bonnos. Mas o Rei não pensa um instante em se tornar rei. Ele não pensa um instante em praticar o que já está bem. Nele, o conceito de medo por aquilo que está mal não existe mais. O conceito de ambição para o mais alto cargo não o toca mais. As medalhas e condecorações estão fora de seu pensamento, mas, para os súditos a coroa de ouro e as medalhas do rei são necessárias. O Rei não tem necessidade de praticar za-zen, mas os súditos devem fazê-lo. O Rei, sem súditos, não é um rei, e os súditos, sem o Rei, já não são mais súditos. Ambas as posições devem estar em perfeita unidade e harmonia. Mas apenas o Rei compreende o segredo do Rei. Os súditos não podem delinear Hishiryo, encontrá-lo de maneira exata, mas eles podem compreender mais profundamente os bonnos e, assim, alargar o âmbito da consciência Hishiryo. Os bonnos são sem substância, mas pelo za-zen, podemos aprofundar mais através do Hokyo Zan Mai.

Se quiserdes compreender o estado de Hishiryo, deveis espezinhar toda inteligência comum.

"O homem velho tem o rosto de um bebê, e o filho tem bigodes brancos”, disse o Mestre Jiun.

O filho deve seguir seu pai:

O pai é a montanha, o filho, as nuvens brancas. A montanha verde é o pai das nuvens brancas, e as nuvens brancas são os filhos da grande montanha verde.