27 janeiro 2008

Hokyo Zanmai - 2º Comentário de Deshimaru


Uma bandeja de prata cheia de neve branca,
uma garça coberta pela luz da lua,

parecem-se, mas não são iguais.
Juntando-as, sabemos que são.


Neste segundo poema, Mestre Tozan explica em profundidade o que é o dharma. A neve, a bandeja de prata, a garça branca e a luz da lua são diferentes.

No San Sho Do Ei, Mestre Dogen escreveu este poema:
"A neve cai sobre as folhas ruivas.
O longo mês do outono.
Quem pode exprimir esta cena com palavras?"
Não são apenas a neve ou as folhas ruivas que são belas. A neve e as folhas ruivas são belas conjuntamente. A neve branca é verdade, essência (ku), as folhas ruivas são fenômenos, diferenciação. Os nomes nada mais são que pseudônimos: neve, garça, luz da lua. Não são a essência. Devemos encontrar a essência, o ku, mas, para isto, é preciso que encontremos os fenômenos.
Vocês se opõem sem cessar: "Se fulano é bom, eu não sou bom. Se sou bom, então ele não é bom, ele se engana! Porque ele e eu nada mais somos que homens comuns". A luta se faz a partir das diferenças, mas, em ku, não há diferenças.

19 janeiro 2008

Hokyo Zanmai - 1º Comentário de Deshimaru

Assim é o Dharma
que os Budas e os Patriarcas
transmitiram intimamente.
Agora que o tendes,
protegei-o bem.


Este poema trata do dharma que é o ensinamento absoluto do Buda, verdade cósmica. O dharma absoluto, sem erro, é zazen. O Buda e todos os mestres transmitiram esse dharma em silêncio. Os sutras, os koans, as conferências, as palavras são meios, mas, em última instância, não há necessidade de nada. O espírito do discípulo e o espírito do mestre devem harmonizar-se, comunicar-se. As duas consciências se fundem.
"A cada dia meu espírito e teu espírito se comunicam,

minha consciência e a tua consciência também.

Eles não esquecem.

Eles são infinitos.

E, dia após dia,

minha consciência e tua consciência,

meu espírito e teu espírito,

se observam um no outro".
Tal é o ensinamento do Mestre a seu discípulo, sem fim, eterno.

Nos sutras, o monge Zen fala com uma linguagem sem osso. Isto significa que ele deve falar em todas as direções, abraçando as contradições.

Também está escrito no Shin Jin Mei:

"A fé é sem dualidade,

a não-dualidade é a fé".

Mestre Tozan encontrou, ao caminhar pelas montanhas, um eremita vivendo em uma pequena cabana. Perguntou-lhe as razões de sua vida naquela solidão. O eremita respondeu-lhe, "Em outro tempo, vi duas vacas que brigavam. Elas entraram no mar e desapareceram, as duas afogadas". Nada de oposição, nada de dualismo em nossa vida.

As conferências do Buda, os sutras, os koans falam do dharma, mas, ao fim e ao cabo, há apenas uma verdade absoluta: zazen. Algumas pessoas não praticam o zazen e discutem sobre o Zen e o budismo. São comparáveis ao gato que brinca com uma pedra preciosa ou ao bebê que se diverte com um monstro. Se conseguimos retirar as amparas em zazen, podemos descubrir a estrutura. Esse é o samadhi do Hokyo Zanmai, o s Espelho do Tesouro, segredo do Zen, essência do budismo.

Continuar o zazen aqui e agora...

Quando o Mestre Dogen voltou da China, abriu um dojo em Uji, no templo de Koshoji, e disse: "Voltei ao Japão sem nada, com as mãos vazias. Nada tenho sobre o budismo". E concluiu com esta frase célebre: "Uma vez, em quatro anos, na única manhã do décimo mês lunar, o galo cantou".