13 dezembro 2010

Fukanzazengi - 16º Comentário de Coupey

 

 Se desejarmos realizar a sabedoria do Buda, devemos começar a praticar imediatamente.

Aqui, Dogen continua a falar da prática do zazen. Essa frase quer dizer, "Deveis praticar o zazen sem demora. Aqui e agora". Inmo, o que é. Então, nos diz Dogen, se quereis praticar "o que é", praticai "o que é" sem demora.

Num dojo, pratica-se a "assimélidade"". Sentamos diante de uma parede, não cortamos nossos pensamentos, e também não fugimos deles. Seguimos conssciente ou inconscientemente nossa respiração, que é longa e profunda. Sem desejar o que quer que seja. Sem finalidade. Para que fazer zazen? No começo, pensamos saber, para isso ou para aquilo. Mas depois, porque? Impossível de responder. Apenas Inmo, aquilo que é. 
Pois, se praticarmos o zazen com uma finalidade, ainda que pequenina, quase invisível, esse zazen é falso (e, desde logo, ordenar-se monge nada mais faz do que reforçar esse espírito). A mídia deseja ardorosamente que nossa prática tenha uma finalidade: o kenshô, o satori. De outro modo, para falar do zen, nada teriam a dizer... Mas, ao final das contas, o importante não é a análise que esssas pessoas que não praticam posssam fazer, mas o modo que cada um navega e anda pelo Caminho.

Mestre Kodo Sawaki, na única frase que encontrei sobre o Fukanzazengi, disse sobre a "assimélidade": "Deveis voltar-vos para a mais elevada busca espiritual dentro de vós mesmos. Deveis voltar-vos para a busca mais elevada do ser humano". É aquilo, inmo. É nossa prática no dojo, mas também na vida quotidiana.

O guru Lee Lozowick disse um dia que o problema com o zen é que esse ensinameento permanece no dojo e não se difunde pela vida quotidiana. Talvez possa ser o caso para muitos praticantes que vestem o kesa no dojo e não o vestem no exterior. A forma nos ajuda, mas existe também a não-forma. É preciso viver no invisível. O invisível está por todo o lado. Seja no dojo, seja fora do dojo, nossa prática permanece a mesma. E a pergunta é: como estar no momento presente por todo o mundo? Não no sentido altruista, mas no sentido onde não existe, onde jamais existiu, separação entre eu e os outros. Fazemos sempre separações: no dojo, fora do dojo; durante o zazen, fora do zazen. E, no final, a separação entre "eu e ele, ele e eu". O ensinamento zen é justamente de como viver neste mundo. É preciso compreender que o próprio zen faz funcionar a vida quotidiana; de outra forma, essa prática nõa teria o menor sentido. Não teria nenhum sentido a existência do Buda Xáquiamuni e a de todos os santos tibetanos, como Milarepa, que viveu nas cavernas, no coração das montanhas.

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