24 dezembro 2010

Fukanzazengi - Como penetrar no zazen? - 17º Comentário de Coupey

Ao fazermos zazen, é desejável que tenhamos um quarto calmo.

Mestre Deshimaru às vezes se serviu da palavra sanzen ao invés de zazen na sua primeira tradução do Fukanzengi. As traduções de hoje empregam a palavra zazen. Mas sanzen quer dizer mais do que simplesmente zazen. San significa aqui "reunião, reunir". E zen, é zen.

Ainda quando era discípulo, Mestre Dogen perguntou ao seu mestre:
"O que é zazen?
E Nyojo respondeu:
- É sanzen, praticar com um mestre: discípulo e mestre".

O que quer dizer praticar com um mestre? O que é um mestre, o que é um discípulo? Nos Estados Unidos eles usam a palavra teacher (professor) e student (aluno). Nós achamos essas expressões um pouco débeis, como se fosse um curso que acabasse quando voltássemos para casa... Cada um deve definir a palavra mestre por si próprio. Mas para o discípulo, a palavra mestre corresponde àquele que lhe pode indicar a trilha, o Caminho. Não apenas através de seus ensinamentos no dojo, por seu comportamento no exterior, mas também pelo que ele é além dele próprio e além do discípulo. É aquele que lhe mostra a prática praticando com ele - san, "reunião"; É aquele que pode transmitir o ensinamento de seu próprio mestre, e o discípulo, aquele que é receptivo a esse ensinamento e a essa prática. Mas, ao fim, os dois são intercambiáveis. O discípulo obriga o mestre a praticar e vice-versa; ele conduz o mestre e quando o mestre avança, ele puxa o discípulo. E além disso, o mestre não precisa estar vivo necessáriamente, ele já pode ter morrido. Um mestre, quando é verdadeiramente seu mestre, não é apenas para a vida, mas para a eternidade. Meus mestre já morreu, mas eu serei sempre seu discípulo.

Mestre e discípulo estão reunidos nas profundezas da prática e do espírito i shin den shin, coração a coração, minha mente à sua mente. Mestre e discípulo, discípulo e mestre, é uma relação, para se servirem mutuamente - evidentemente não para si mesmo, mas para o Dharma. E o trabalho de cada um de nós, de vocês, consiste em transmitir esse Dharma, automatica, inconsciente e naturalmente, sem modificá-lo em nada. Transmitir o que foi transmitido através dos séculos e que será transmitido nos séculos vindouros. E isso apesar de vocês, apesar de nós, apesar de mim.

Para quem não é discípulo e que não conhece essa relação, a prática é cada vez mais difícil. Eu penso mesmo que ela, no final, torna-se insustentável. E não falo isso pelo que li, mas pelo que vi e vivi de pessoas que não estabeleceram essa relação de mestre e discípulo e bem que desejariam ter estabelecido. Frequentemente nos mondo há perguntas do tipo "Como encontrar um mestre?", "Devo procurar um mestre?" Esse estado de espírito já é falso, nessa prática não se ajuda a encontrar quem quer que seja, e creio que a questão seja de não procurar mais... E, a menos que procurar o mestre seja procurá-lo em si, vocês nunca o encontrarão. Pois, ao fim e ao cabo, o verdadeiro mestre é você mesmo, isto é, a sua verdadeira natureza. Mas para encontrar o mestre interior, necessitamos do mestre exterior.




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