08 novembro 2011

Fukanzazengi - 43º Comentário de Coupey

Portanto, não se deve discriminar entre o inteligente e o não-inteligente.

Ser ou não inteligente, nada conta no Caminho. O significado profundo do zazen não pode ser apreendido pelo mental. Ele está além dos sentidos, além do pensamento. Todos podem praticar, mesmo um tolo. Frequentemente ouvimos as pessoas dizerem, "Ah, eu ainda não estou pronto..." Isto é um absurdo. Todo mundo está pronto. Desde o momento em que temos duas pernas e as possamos cruzar, alías não temos nem mesmo necessidade das duas pernas. Precisamos de um corpo, mas é tudo. Afinal a verdade mais elevada existe em nosso corpo, isto é, aqui e agora. Portanto não sigam o mental, sigam o corpo, seus corpos.

Na época de Buda, media-se a inteligência em função da capacidade que se tinha ou não de se lembrar das coisas e sobretudo, seguramente, das palavras de Buda, como hoje temos os sutras.
Culanpataka, um discípulo de Buda, era considerado um estúpido completo pois não conseguia se lembrar de nada, algo como nós hoje em dia... Então, um dia, Buda lhe colocou uma vassoura nas mãos e lhe disse, "Faça isto. Apenas isto!" E foi por aquela única ação de varrer que Culapantaka tornou-se um arhat.
Para praticar o caminho é preciso simplesmente se investir totalmente com o corpo no momento presente. Nossa prática, shikantaza, não tem nada a ver com a inteligência, pois ela não tem finalidade.  Portanto, não há necessidade de aprendermos uma técnica, não há necessidade de possuirmos um saber ou competências especiais. Não há necessidade de habilidade, de memória, de atitudes, de talento, de especialização, de qualificação, de graus, de shihô, não há mesmo necessidade de ordenação, não há necessidade de rakusu. Apenas um bom zafu e coragem. Muita coragem.

Não é preciso ser inteligente para se ter coragem. A coragem, por exemplo, de virmos ao dojo regularmente, ainda que ninguém ou nada nos encorajem a isso. A coragem de virmos, mesmo e sobretudo, quando estamos em dificuldade, e quase sempre estamos. O Mestre Deshimaru nos encorajava às vezes dizendo, "Se vocês praticarem zazen, vocês se tornarão grandes líderes". Eu não diria isso. Eu falaria mais do esforço, do esforço na boa direção, esforço correto, nas palavras do Buda.

Seguramente na vida social, é muito importante ser inteligente se queremos tornar-nos, por exemplo, chefe de Estado ou general.  Mas no mundo de hishiryo, pouco importa a inteligência, estamos além do pensamento. Kodo Sawaki disse um dia algo como, "É preferível ser tolo do que inteligente, pois o inteligente nada mais é que um tolo que se ignora". O tolo também pode fazer zazen sem duvidar. Isso é importante no zen soto, diferentemente do rinzai, onde a dúvida é acentuada. A dúvida até a explosão... Entre nós, a prática começa ali onde não duvidamos mais, não duvidamos do zazen. Não procuramos atingir o cume da montanha como no rinzai. E, quando nos observamos e nos esquecemos de nós mesmos, todas as dúvidas se vão. Fazer zazen sem duvidar permite que entremos rapidamente no Caminho. Enquanto que o inteligente, aquele que coloca em questão o que se faz no dojo ou fora do dojo, aquele que pesa o bem e o mal, avança muito lentamente. Frequentemente, além disso, ele avança até um nível e depois começa a recuar. Pensamentos demais.

O homem que desenvolve seu cérebro frontal está sempre construindo, mas o budismo não é uma construção. Quando em nossa mente construímos, fabricamos, edificamos, a verdade desaparece. O budismo é o contrário, tudo o que produzimos em nossa mente deve ser destruído, bonno, ilusão. E isso é possível em zazen, pela respiração, pelo sopro que expulsa tudo. E não é preciso nunca nos desencorajarmos pelo fato de que tão logo tudo é expulso, tudo retorna: é a condição humana.

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