13 julho 2011

Fukanzazengi - 33º Comentário de Coupey

O Zazen não é “meditação passo-a-passo.” Ao invés, é tão somente a agradável e fácil prática do Buda, a realização da sabedoria do Buda.

Diz-se que a prática do zazen é, ela própria, satori. Este conceito, mencionado aqui por Dogen pela primeira vez, tornou-se em seguida um dos pilares de seu ensinamento. Isto é profundo e difícil de compreender com a cabeça. Eu penso mesmo que só podemos compreender após longos anos de prática. Ainda que zazen seja satori, como nos asseguram Mestre Dogen, Mestre Deshimaru e todos os outros mestres da transmissão, isto não quer dizer absolutamente que fazendo zazen podemos atingir o satori. Quem é que atingiu o satori?

Eis que aparece a verdade, não mais havendo ilusão.

Quando cheguei ao zen em 1972 no dojo de Peterny, foi isso o que realmente me golpeou. Vendo os outros na postura, e assumindo eu mesmo a postura, me disse: "Vejam lá, isto não é o pensamento! Não é a cabeça, não são ideias, não são conceitos.  Não é a percepção. Não é a sensação, não é o que se vê, não é o que se escuta, não é o que se sente, o que se pensa. É mais do que tudo ação no aqui e agora". E eu não me enganei. Mais tarde, quando encontrei meu mestre, quando comecei a me familiarizar com o ensinamento e, sobretudo, a compreendê-lo com as vísceras, realizei que o que havia sentido era, com efeito, o tema central da prática budista.

Não pensem nunca que zazen é inatividade, Quando o corpo começa a desabar sobre o zafu, tensionamos a coluna lombar a partir da quinta vértebra lombar. Quando as mãos escorregam para a frente, as trazemos de volta contra a parte de baixo do abdômen. Quando o queixo cai para a frente, o trazemos de volta alongando a nuca. E quando a mente se bloqueia em alguma coisa, a desbloqueamos.

Então Dogen nos diz: "Zazen é a manifestação da realidade última". Como compreendemos nessa prática, a realidade não pode estar em outro lugar senão aqui. Ela está onde estamos. A realidade não pode ser ontem, não pode ser amanhã. Isto é uma ilusão. A realidade é uma sequência de "aquis e agoras". A realidade é o que é. Vocês, eu, agora.

Eis um poema de Hanshan que eu gosto muito:

"Estranho é o caminho que conduz a Hanshan;
Não se vê nenhuma marca de roda nem pegada de casco.
Os vales serpenteiam a perder de vista,
Os cumes escalam o céu;
A relva cintila de orvalho
E os pinheiros murmuram sob a brisa.
Ainda não compreendeste?
A realidade pede à sombra o caminho".

Este poema não é tão fácil de compreender, sobretudo o último verso. Hashan fala da realidade. Fala da montanha, do vale. Fala de si próprio. Ao final das contas, ele fala do momento presente. E quando falamos do momento presente, não há necessidade de nos colocarmos questões do tipo, "É este que é o momento presente? Ou melhor, não será este aqui?"

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