13 fevereiro 2011

Fukanzazengi - 23º Comentário de Coupey

Deixando tudo de lado, ........, nem no certo, nem no errado.

Nem certo, nem errado. Todo o mundo que praticou, ainda que tenha praticado pouco zazen, sabe disso. Esse é um assunto que atravessa todos os texto antigos e contemporâneos do zen. No seu Shinjinmei, por exemplo, Sozan disse isso inúmeras vezes e de diferentes maneiras. Eis a vigésima segunda estrofe:
"Se nos restar a menor noção de verdadeiro ou falso,
 nossa mente naufraga na confusão"
Não tomar partido contra ou a favor, não achar que isso é certo, isso é errado, parece fácil durante o zazen, mas quando se sai do dojo, torna-se muito mais difícil... Imediatamente a gente começa a excluir qualquer coisa ou qualquer pessoa,  para incluir a si próprio, a gente se põe a defender um lado e, quando se defende um lado, rejeita-se o outro. Assim, durante todo o dia, tomamos partido. E, geralmente, é  pelo lado que nos favorece naquele momento preciso. Sem cessar, nós nos defendemos: "Eu tenho razão, ela está errada...", ou "Isso não é justo, não é honesto...". Basta nos observarmos um pouco para notar não apenas em que ponto estamos tomando partido contra ou a favor, mas também em que ponto, no mesmo instante, estamos verdadeiramente mergulhados na confusão. Observarmo-nos assim é a prática do zazen fora do dojo - mesma mente. E, se nos observamos atentamente, com frequencia nos desesperamos. Dizemo-nos, "Puxa..., eu pratico há quinze, vinte anos e estou sempre nessa mesma confusão - justo, falso, com razão, errado....". Começamos a pensar que o zazen "não funciona"... E é verdade, não funciona.

Então, qual a vantagem de praticar dessa forma, dado que "isso não funciona"? Mas não penso que essa prática possa nos conduzir ao que quer que seja, se queremos que "isso funcione". Lembrem-se da famosa frase de Jinshu: "É preciso limpar continuamente o espelho". Esse não é o zen que praticamos. Em um dos seus kusen, Mestre Deshimaru disse um dia: "Porque Jinshu não recebeu a transmissão? É preciso que meus discípulos compreendam". Para nós não existe nada como o "zazen progressivo". Tudo se passa agora. É a posição de Eno quando dizia,  "Não há espelho. Nada a limpar".

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