04 julho 2010

Fukanzazengi - 3º Comentário de Coupey (continuação)

Mestre Sosan escreveu: “Não procure a verdade. Contente-se em parar os ken”. Ken quer dizer “opinião, julgamento”. Ken vem de nosso ego individual, de nosso pequeno si, e é esse ego que separa ilusão e realidade. Cada um, evidentemente, tem suas opiniões, seus gostos, seus desgostos, mas é importante realizar que isso é apenas pessoal. Podemos então compreender que não há espelho: ku. E, portanto, não há lugar onde a poeira possa se depositar.

Finalmente o debate entre as posições de Eno e Jinshu toca numa questão de consciência: enquanto para Eno trata-se de girar a consciência em 180 graus, para Jinshu trata-se mais de progredir dia após dia. Jinshu foi o primeiro discípulo de Konin. Ele compreendia absolutamente tudo – como fazer as cerimônias, do que tratava esse ou aquele sutra, por exemplo – mas nunca se tornaria num verdadeiro mestre. Eno foi esse verdadeiro mestre, e Konin o reconheceu ao lhe transmitir seu kesa que é a essência secreta passando entre o mestre e o discípulo – kesa e tijela.

Em uma história zen, um mestre manda seu discípulo trepar num mastro de dez metros de altura. Quando ele chega ao topo, o mestre lhe diz, “Não acabou! Continue a subir!” Jinshu subiu em um mastro de dez metros e ele subiu dez metros. Eno, por sua vez, subiu onze metros em dez... Isto quer dizer que ele não subiu em nada. Eis nosso ensinamento.

Apesar disso, eu sempre tive um fraco por Jinshu por duas razões: primeiro, porque ele ensinava a prática do zazen dia e noite. Venham praticar no dojo, e como dizia Mestre Joshu, “Se em dez anos vocês não encontrarem o verdadeiro Caminho, podem cortar minha cabeça e dela se servirem como uma pia”; em seguida, porque fiquei impressionado ao saber que foi graças a Jinshu que o povo chinês ficou dispensado da obrigação de se prostrar diante dos pais. Anteriormente, quando se desejava falar com seu pai ou sua mãe, era necessário antes se prostrar no solo diante deles... Essa era a tradição e foi graças a Jinshu que esse gesto encontrou sua verdadeira dimensão – o que se chama sanpai: toca-se o solo com a testa, em respeito ao buda, ao coração de todo homem, mulher, criança, animal.

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