18 julho 2010

Fukanzazengi - 4º comentário de Coupey

O Caminho está completamente presente onde estás. Porque ir aqui ou acolá para praticar?

O Caminho está onde estamos. Porque ir aqui ou acolá? Não há um discípulo que não conheça essa lição. Encontramo-la por toda a parte. No Shinjinmei, por exemplo, a estrofe 34 nos diz:

“Se vos expressardes livremente, isso se torna natural.
No corpo, não há qualquer lugar aonde ir ou permanecer.”

Queremos sempre ir a algum lugar. Partir em férias, para a montanha, para o mar, para o exterior. E, se não pudermos, mudar, de casa, para qualquer coisa melhor... Ou, ao contrário, queremos sempre permanecer, ficar onde estamos, não nos mexermos. Queremos ficar no mesmo lugar e não escalar a montanha, chegar ao cume. Queremos permanecer em nosso conforto. Isto é difícil de ultrapassar. Alguns que se consideram maus, querem tornar-se bons; outros que se acham bons demais querem ser percebidos como um pouco malvados...

O lugar que ocupamos durante o zazen não mede mais do que um metro quadrado. Apesar disso, pela prática correta, se não seguirmos nossos pensamentos pessoais, esse metro quadrado contém o universo inteiro. Então, onde querem ir? Onde querem ficar?

Antes de termos encontrado a prática, o mestre, o Caminho, queremos ir procurar em países longínquos. Alguns foram buscar os traços de Don Juan Matus, o sábio mexicano de Carlos Castañeda. Outros partiram para a Índia, para o Tibete, para o Japão. Mestre Deshimaru dizia, “Bem, de acordo, vocês querem ir ao Japão? Então vão como turistas ou em viagem de negócios, mas não percam seu tempo para ir lá para buscar o Caminho. Se quiserem visitar os templos, carreguem uma câmera fotográfica. Entrem pela porta da frente, atravessem o templo, passem ali uns dez a quinze minutos, isso basta... e saiam pelo outro lado!”

Venerar o que é mais elevado em nós mesmos nos faz praticar lá onde estamos. Um ditado taoísta muito conhecido nos diz: “O grande sábio vive na rua, o pequeno sábio entra na montanha”. Não venerem o dojo, nem a estátua de Buda, nem a foto do mestre sobre o altar, mas venerem o que há de mais elevado em vocês mesmos, o que está além de todo conceito pessoal.

Então porque ir aqui ou acolá para praticar?

Essa ideia é repetida em muitos sutras. No Sutra do Lotus, por exemplo, está dito que a verdade está bem próxima, bem perto, que ela não é nem complicada, nem longínqua, mas que nós simplesmente não somos capazes de vê-la... Com efeito, queremos sempre buscar longe. Queremos sempre definir – definir o satori, por exemplo. Mas defini-lo é dele nos afastarmos. Queremos sempre escapar de onde estamos, apenas evitar o aqui, evitar o agora. E, depois, inversamente, queremos voltar sobre os nossos próprios passos, mas não podemos mais, e então sentimos remorsos, pois pensamos que teria sido melhor... Eu frequentemente ouvi antigos praticantes dizerem que “na época do Mestre Deshimaru era melhor”. Mas os que não conheceram o Mestre Deshimaru crêem que na época de tal ou qual discípulo do Mestre Deshimaru era melhor... Um dia, alguém me disse que era melhor a época do dojo de Keller do que agora na rua Tolbiac. É a verdade que se afasta. É niho, dois elementos. Ni quer dizer “dois”; ho quer dizer “dharma, existência”.

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