16 setembro 2008

Hokyo Zanmai - 16º Comentário de Deshimaru


É íntimo com a origem,
É familiar com o Caminho.
Eis o caminho para nos ajudarmos uns aos outros. Depois de havermos escalado a montanha do Hannya Haramita, descemos. A subida e a descida são necessárias, sem separação nem dualidade, em completa interdependência. Da mesma forma, a compaixão e a sabedoria se abraçam, se combinam. Se uma aparece à superfície, a outra esconde-se atrás. Elas não são mais separáveis do que as duas faces de uma folha de papel.
Eis aqui a história de Mestre Shinran, Mestre tão célebre quanto Dogen, no tempo de Kamakura. Em sua juventude, Shinran era estudante da Escola Tendai em um templo da montanha Hiei, perto de Kyoto, pendente do lago. Shinran sofria bastante naquele templo, não apenas pela falta de relações sexuais, impossíveis num templo, mas também por conta da dificuldade em resolver problemas da sua vida. Cada dia, ele ia a pé até Kyoto, ao templo de Rokakudo (em japonês Rokakudo significa as seis consciências) e implorava à estátua de Kanon (Avalokitesvara). Uma noite, quando dormia diante da estátua de Kanon, Shinran teve um sonho. Uma mulher muito bonita, uma Kanon muito bela, lhe apareceu vestida em um kesa branco imaculado e completamente cintilante. Tinha em suas mãos uma flor de lótus. Ela lhe disse: "Shinran, teu destino será muito perturbado pelas mulheres... Assim devo ajudar-te e vim unir-me a ti. Serei tua esta noite, celebraremos nosso casamento e, em seguida, tu anunciarás nossa união a todos os seres humanos". Shinran foi pego de surpresa. E foi completamente incapaz de realizar aquela união, estava completamente impotente! Ele quis enxergá-la novamente, mas ela desaparecera... E percebeu uma multidão numerosa que subia o flanco de uma montanha. Seu sonho era a expressão de suas dificuldades da juventude, de monge estudante, com seus problemas sexuais. Ele os resolveu em seguida.
Shinran apaixonou-se por uma princesa deslumbrante e desposou-a. Isto lhe custou a prisão, pois ele violara os kai (preceitos) e faltara com a lei do budismo. E ele foi deportado para um lugar longínquo. Mas, durante sua estadia na prisão, realizou o método de salvação da humanidade. Tornou-se íntimo e familiar com o caminho da compaixão.
À mesma época, Dogen abria no templo de Koshoji, em Uji, um dojo acessível às mulheres, a quem era, então, proibida a prática do zazen.
Esse é um exemplo de intimidade não apenas com a fonte, mas também com o Caminho. No sonho de Shinran, a multidão escalava a montanha e, em seguida, descia. O homem religioso contempla as pessoas do alto da montanha, depois ele desce, e a elas se mistura.

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