30 setembro 2009

“Na verdade, o corpo completo da realidade está muito longe da poeira do mundo”

Todos os fenômenos do mundo que percebemos e observamos são o Dharma e o próprio Caminho. Isto é “o corpo completo da realidade”. Naturalmente, isto quer dizer que não há a menor possibilidade de que poeira suja, como as paixões ilusórias ou a iluminação, ilusão ou realização, possa entrar.

“Quem pode crer em algum meio de limpá-lo?”

Como não há pó ou sujeira, então não há qualquer necessidade de limpeza. Neste ponto eu gostaria de relatar a anedota envolvendo Daiman Konin, o Quinto Patriarca na China depois de Bodhidharma.

A fim de escolher seu sucessor, Daiman Konin arranjou uma maneira de testar os monges quanto ao verdadeiro Eu. Inicialmente, um monge chamado Jinshu deu a seguinte resposta: “Nossa condição é como um espelho. Devemos sempre limpá-lo, de outro modo naturalmente ficará turvo. Constantemente se esforcem para mantê-lo limpo; nunca o deixem que se encha de poeira”.

Em resposta a isto, Daikan Eno, outro monge que praticava com Daiman Konin, escreveu: “Essencialmente nada há. Onde podem a poeira e a sujeira se acumular?” “Essencialmente nada há” significa que fundamentalmente todas as coisas surgem por conta da lei da causação e consequentemente não têm substância. Como não há substância, poeira e sujeira – em outras palavras, as paixões ilusórias e a iluminação – não podem se acumular em lugar algum. Esta foi a maneira que ele respondeu à questão. Eu creio que está claro para todos vocês quem passou no teste. Naturalmente, foi Daikan Eno, conhecido como Huineng em chinês.

Entretanto, se não tivéssemos escutado os ensinamentos budistas e fôssemos pensar na prática no sentido comumente aceito, teria sido mais fácil aceitar a resposta de Jinshu, “Constantemente se esforcem para mantê-lo limpo; nunca o deixem que se encha de poeira”. Esta parece ser a maneira correta de praticar, mas é completamente equivocada. Esses dois pontos de vista estão tão separados como o céu e a terra.
(4ª e 5ª partes do 1º Comentário de Harada sobre o Fukanzazengi)

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