04 junho 2009

Hokyo Zanmai - 26º Comentário de Deshimaru

Como a falha do tigre,
Como os olhos noturnos do cavalo.

Segundo a tradição popular, na Ásia, quando um tigre devora um ser humano, suas orelhas se rompem - este é o seu ponto fraco. O cavalo tem pelos brancos no joelho e, à noite, quando galopa, estas manchas parecem com olhos. Nem suficiente ou demais, a verdadeira beleza é sempre imperfeita.

Eis uma história a retirada do livro “A justeza da areia e da pedra”, de Mestre Muju.

“Um mensageiro, doente, epiléptico, deveria ir ter com alguém na noite. Em seu caminho, ele tem que atravessar uma pequena ponte de madeira sobre um rio rápido. Olhando para a corrente de água a partir da ponte, é acometido por uma crise de epilepsia, cai na água, e flutua seguindo a corrente. Na manhã seguinte, ele acorda do outro lado ... vivo”. Em um estado de morte aparente, ele caiu na água, e assim ele pode continuar a viver. Se fôssemos fazer o mesmo sem estarmos inconscientes, certamente iríamos morrer!

Durante o meu primeiro encontro com o Kodo Sawaki, no templo Soji-ji, ele emprestou-me três livros, incluindo a biografia do monge mendicante Tosui. Chefe de um grande templo, Mestre Tosui escapou, abandonando todas as suas roupas de monge para se juntar a um grupo de leprosos mendicantes. Em tempos remotos, os leprosos, perseguidos, eram forçados a se recolher em comunidades. Um de seus discípulos correu atrás dele. Tosui lhe disse: “É muito difícil seguir-me! Abandona tudo, mesmo teu koromo e teu kesa. Só este tapete de palha será suficiente para tu dormires”.

O discípulo partiu com Mestre Tosui.

Um dia, Mestre Tosui pediu-lhe para cavar um buraco para enterrar um homem morto com hanseníase. O discípulo obedeceu. Quando o grande buraco estava pronto, Tosui ordenou: "Segura, pois, as pernas, enquanto eu carrego a cabeça”.

O corpo do cadáver estava completamente apodrecido pela lepra e o discípulo tinha náuseas de repugnância. Eles o observaram, por instantes, na terra. Momentos depois, o discípulo para se recompor, pediu alguma comida a Tosui. O Mestre lhe respondeu: “Toma pois, a sopa, aquela lá!” Nessa sopa, deixada pelo morto, a supuração de feridas estava misturada com o líquido. "Eis a tua refeição de todos os dias. Não contes com comer legumes ou carne!” O discípulo se disse: “Se eu não tomar esta sopa é que a minha decisão é fraca! Tenho de comer!” Mas o primeiro gole ficou parado em sua garganta; ele não pôde engolir a sopa contaminada. O Mestre Tosui disse: "É duro! Tornar-se meu discípulo é muito difícil, e isso não é possível para ti”. O discípulo começou a chorar, e Tosui continuou: "Minha dimensão e a tua não são as mesmas. Nossas circunstâncias são diferentes. Tu não podes ser um mendigo. Tu tens que ser chefe de um templo.” E, posteriormente, o discípulo se tornou um monge.

Tosui, ele, permaneceu completamente um mendicante, dormindo, onde podia, em celeiros, e morreu com oitenta e oito anos, perto do templo Antai-Ji, em Kyoto. Ao final de sua vida, um rico comerciante de saké o protegeu, fazendo com que vendesse vinagre feito a partir de restos de saké. De tempos a tempos Tosui fugia da loja de seu patrono para ir dormir em um estábulo. Ele sempre carregava consigo uma imagem do Buda Amida que pendurava bem ou mal nas paredes do estábulo.

Ele escreveu sobre isso um pequeno poema:

“Aqui, é estreito e sujo,
Mas eu lhe ofereço este estábulo”.


Nenhum comentário: