05 agosto 2008

Hokyo Zanmai - 11º Comentário de Deshimaru (final)

Buda não parte em direção aos fenômenos, Buda não permanece, Buda não se apega, as ações de Buda são estáveis, elas não engendram movimentos. Buda proferia seus sermões a inumeráveis pessoas, mas, na realidade, não eram sermões, mas palavras livres. As palavras do Buda são muito profundas, e sem noção alguma de categorias, palavras ilimitadas, e esta profundeza é o infinito do cosmo. Da mesma forma, os bebês não têm medo de nada, eles são livres, livres de falar. Como o Buda. Mas as palavras das crianças são gugu... dadá...
Nossa consciência deve se equilibrar entre o córtex, o cérebro profundo e o tálamo.
Em zazen, o cérebro frontal e o córtex entram em repouso, enquanto as camadas profundas, ou cérebro primitivo, e o tálamo estão ativos. O tálamo é influenciado pelos impulsos recebidos do sistema nervoso autônomo. Este sistema recebe informações procedentes dos músculos e dos cinco órgãos dos sentidos. Os músculos, em zazen, estão em estado de tônus forte, correto, exato, e exercem uma influência sobre os nervos.
Os cinco sentidos se acalmam. O cérebro chamado intelectual, sempre ativo na vida quotidiana, conhece um tempo de repouso. No mesmo momento, a casca primitiva e o tálamo entram numa forte atividade. Essas regiões do cérebro podem ser vistas, à luz da filosofia budista tradicional, como o armazém de sementes de memória. Quando pensamos em qualquer coisa, uma conexão neuronal se cria, gerando uma “ação” que se torna uma “semente” de memória no tálamo. Durante o zazen, o cérebro frontal estando em repouso, as sementes armazenadas no tálamo vêm à superfície. Podemos compreender, pelos mecanismos dos sonhos durante o sono, essas elevações das sementes armazenadas. Mas, em zazen, o cérebro não dorme, ele está engajado numa atividade exata e intensa quando nossa postura está correta. No começo do zazen, o cérebro pré-frontal e frontal entra numa fase de repouso. A consciência pessoal se esvanece e, a partir do cérebro primitivo, as lembranças antigas escondidas e armazenadas se elevam. Estas “elevações” param e depois se retomam... É o estado de Hishiryo. O cérebro está em unidade com o sistema cósmico.
..wawa... muku muku..., estas palavras correspondem ao que os bebês japoneses fazem. Mas eles não podem indicar seu objeto porque sua linguagem não apenas é sem precisão, mas também sem adorno, sem complicação. Depois, eles desejam falar e usam uma linguagem direta, não racional, não ordenada, e, às vezes, esta linguagem vai direto à fonte. É idêntico ao Zen, direto, simples e sem complicação. O Zen vai diretamente à realidade. Devemos apontar diretamente na na natureza de Buda, sem desvio, ir além do mundo da linguagem e do pensamento, além do mundo dos sentidos, estar em fusão com o sistema cósmico: é a consciência cósmica.
O Mestre pergunta ao discípulo:
- O que fazes?
O discípulo responde:
- Não faço nada.
O Mestre:
- Tu fazes o zazen mushotoku.
O discípulo, então, lhe responde:
- Se eu tivesse respondido zazen, isto quereria dizer que eu fazia zazen.
O Mestre lhe replica:
- Tu fazes alguma coisa, porque esse “não fazer nada?”
O discípulo então lhe diz:
- Mesmo dez mil Budas não poderiam compreender...
O quê significa este mondo?
Mesmo se respondermos com a linguagem, ao final, esta linguagem não é exata. Não se pode atingir o fundo da questão. Falar do fogo não faz com se sinta o calor. Falar do frio não nos refrescará.
Ainda que nossas palavras estejam corretas, o que quer que se possa dizer, isto não pode ser explicado pela linguagem. Às vezes o silêncio é mais forte que a eloqüência. Os bebês não podem falar. O Buda pode falar, ele explicou numerosos sutras e proferiu numerosos sermões, mas ele disse finalmente: “Eu não posso explicar tudo, acabei de falar, mas meus sermões não estão terminados, eles não são a verdade total”.
O Zen é plantar uma flor sobre a pedra...
É a mais elevada, a maior das sabedorias.

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