14 maio 2007

Sandokai - 16º Comentário de Suzuki

Para os olhos, há a cor,
Os ouvidos percebem os sons, o nariz, os odores,
A língua diferencia o salgado do doce.
Mas todas as existências, como as folhas da árvore,
São alimentadas pela raiz.

Na minha última palestra, expliquei o sentido da independência de tudo. Embora as coisas sejam interdependentes em relação umas às outras, ao mesmo tempo, cada ser é independente. Quando cada ser inclui o mundo inteiro, cada ser é realmente independente.

Sekito falava sobre a natureza da realidade em um tempo em que a maioria das pessoas, esquecendo tudo sobre este ponto, julgava qual escola do Zen estava certa ou errada. Foi por isto que Sekito escreveu esse poema. Ela falava da realidade a partir do ponto de vista da independência. A escola do Sul é independente e a escola do Norte é independente, e não há nenhuma razão para que devêssemos compará-las para decidir qual é a correta. Ambas as escolas expressam a totalidade do Budismo à sua própria maneira – da mesma maneira que a escola Rinzai tem sua própria abordagem da realidade e a escola Soto tem sua própria abordagem. Sekito Zenji salienta isto. Embora ele se refira à disputa entre as escolas do Norte e do Sul, ele fala ao mesmo tempo sobre a natureza da realidade e sobre o que é o ensinamento budista em seu sentido verdadeiro.

Agora quero explicar esses versos que descrevem a realidade do ponto de vista da independência. “Olho e visão, ouvido e som, nariz e cheiro, língua e paladar”. Parece que Sekito fala dualisticamente sobre a dependência dos olhos em seus objetos. Mas quando você vê algo, você vê em seu sentido verdadeiro de que não há nada para ser visto nem ninguém para ver. Apenas quando você analisa é que há alguém vendo algo e algo que é visto. É uma atividade que pode ser compreendida de duas maneiras. Eu vejo algo, mas na realidade não há ninguém vendo e nada para ser visto. Ambas são verdadeiras. Aqui Sekito fala sobre a unicidade do olho e da forma. È como os budistas observam as coisas. Compreendemos as coisas de um modo dualístico, mas não esquecemos que nossa compreensão é dualística. Eu vejo. Ou alguém ou algo é visto por alguém. São interpretações de sujeito e objeto que nossa mente pensante produz. Sujeito e objeto são um, mas também são dois.

Sekito diz que para os olhos, há forma. Mas ao mesmo tempo não há olhos nem forma. Quando você diz “olhos”, olhos incluem a forma. Quando você diz “forma”, forma inclui os olhos. Se não há forma e nada para ser visto, olhos não são mais olhos. Olhos tornam-se olhos porque há algo para ser visto. O mesmo é verdade para ouvidos, nariz e língua.

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