13 fevereiro 2007

Sandokai - 12º Comentário de Deshimaru

O fogo esquenta, o vento se move,
A água é úmida, a terra é dura.
Para os olhos, há a cor,
Os ouvidos percebem os sons, o nariz, os odores,
A língua diferencia o salgado do doce.
Mas todas as existências, como as folhas da árvore,
São alimentadas pela raiz.
A origem e o fim procedem da mesma fonte: ku.
A origem e o fim regressam ao nada.
Nobre ou vulgar são empregáveis a vosso gosto!

O fogo da lenha queimando na lareira e o ferro em fusão no cadinho, não atingem a mesma temperatura. No entanto, a fonte, a origem é o fogo. Não podemos ver a origem, ela existe na profundeza obscura.

Não podemos compreender a essência do ar, a fonte do vento no céu.

O ar se move de uma zona de alta pressão para uma zona de baixa pressão - o vento está criado! Vento suave ou violento, pode até ser mesmo um tufão! Na água, também, numerosos fenômenos podem se produzir. Igualmente o tempo pode tornar-se pedra...

Com os olhos fechados não podemos compreender o que é a visão mas, se os abrimos, múlltiplas cores aparecem. As sete notas da escala tornam-se, na música, milhares de sons diferentes. Qual é a fonte, a origem de todas essas vibrações?

Um dia, num templo, um jovem monge perguntou a seu Mestre: "O sino do templo ressoa, meus ouvidos escutam, mas onde se encontra o som?" Esta pergunta transformou-se em um célebre koan.

O nariz percebe numerosos odores diferentes. Se não comemos, a língua não pode degustar nada, mas é função da língua perceber e diferenciar os paladares, doce, salgado, amargo, suave. Se colocarmos um pedaço de carne no nariz de um gato e ele só perceber o cheiro, lamberá o prato.

Meu Mestre Kodo Sawaki repetia sempre: "Uma certa pessoa que tinha um pedacinho de cocô na ponta do nariz perguntava: 'Mas quem é que está fedendo aqui?"

Sem objeto e sem propósito, nosso espírito não é tão complicado. Um objeto, um propósito e numerosos fenômenos se elevarão. Uma única e mesma raiz produz numerosas folhas. De uma única fonte, numerosos fenômenos podem surgir. Mas a origem e o fim são, em última instância, ku. Há numerosas concepções, rico ou pobre, Deus ou Buda, homem ou demônio, e cada uma tem sua utilidade, mas, em definitivo, a fonte original e o destino último retornam ao nada.

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