06 novembro 2006

Sandokai - 8º Comentário de Deshimaru

Apegar-se às coisas é causa de ilusão.
Seguir e encontrar o absoluto
Não é a verdadeira iluminação.


Estamos aqui mais uma vez diante da mensagem fundamental do budismo Mahayana tal como expressa no antigo sutra que é cantado após o zazen, o Hanna Shingyo, ou Sutra da Sabedoria Suprema (Mahaprajna Paramita, em sânscrito):
shiki soku ze ku
ku soku ze shiki

Os fenômenos são a essência (o vazio) e a essência (o vazio) nada mais é que os fenômenos. E, uma vez que shiki torna-se ku e ku, shiki, é impossível privilegiar um dos dois termos. Ligar-se ao mundo dos fenômenos, ao universo material, é causa de ilusão, e não encontrar senão a essência, o vazio, não é verdadeiramente o despertar.
O budismo está além da dualidade da essência e da existência, como de toda dualidade. Para Dogen, o espírito e a matéria são um. Zazen engloba todas as contradições. Buda resolveu experimentalmente a questão com a qual se debate a filosofia ocidental desde Platão. Porque estamos nesta terra? Que somos nós, de onde viemos, para onde vamos? Ou melhor, o que vem primeiro, a essência ou a existência, a matéria ou o espírito, etc? Hoje, como há dois mil anos na Índia, o problema permanece o mesmo.
Nem existencialismo, nem essencialismo, nem materialismo, nem idealismo, a formulação do Caminho do meio por Nagarjuna é sempre pertinente. Devemos encontrar a raiz do ego, o princípio último do universo. E só poderemos resolver a crise de nossa civilização nos harmonizando com a ordem e energia do cosmo.

Um comentário:

Bushi disse...

A meu ver o insight central do budismo é justamante este: a não-dualidade.

Acredito que aí reside a resposta para nossas mais profundas indagações.

abraços
Rodrigo