Muitas são as formas de entrada no Caminho, mas elas podem ser resumidas a duas: a entrada pelos princípios e a entrada pela prática.
A entrada pelos princípios consiste em realizar o princípio essencial apoiando-se na doutrina. Consiste em crer na imanência, em todos os seres, de uma natureza única e verdadeira, que o véu irreal das impurezas nada mais faz senão mascarar. Pelo abandono do falso e o retorno ao verdadeiro, concentrando-se na contemplação mural, descobre-se que não existem nem eu, nem outro, e que o profano e o santo se revelam iguais e uno. Nisto colocando firme confiança, e dela não se apartando, torna-se silenciosamente uno com o princípio, das palavras não se é escravo, e se é livre da consciência discriminativa. Tudo é sereno e além da ação. Esta é a entrada pelo princípio.
A “entrada pela prática" inclui quatro práticas, que resumem todas as outras. Quais são elas? São:
1) [Saber] se livrar do ódio;
2) estar de acordo com as condições;
3) nada desejar; e,
4) estar em perfeita harmonia com o Dharma.
1. O que é saber como se livrar do ódio?
Quem se disciplina no Caminho, quando encontra condições adversas, deverá pensar assim: "Por incontáveis eras no passado vaguei por multitudes de existências, apegando-me à trivialidade e desprezando o essencial. Criei com isso inúmeras situações propícias ao ódio, à má-vontade e às ações não-saudáveis. Mesmo que nesta vida transgressões não fossem feitas, ainda assim os frutos das ações maléficas do passado se manifestariam. Nem os seres luminosos, nem os homens poderiam saber o que a mim está reservado. De boa vontade e com paciência aceitarei os males que a mim sobrevierem e deles não me lamentarei. Nos sutras é dito que não devo me agitar pelos males que surgem, pois, quando com inteligência as coisas são penetradas, os fundamentos da causalidade são conhecidos". Quando tais pensamentos surgem num homem, com a Inteligência ele estará de acordo, fazendo do ódio o melhor uso possível e colocando-o à serviço do Caminho.
2. Aceitar o karma significa:
Nos seres produzidos pelas condições do karma, nenhuma substância imutável pode ser encontrada, e a alegria, bem como o sofrimento, são também resultados de ações intencionais do passado. Se vêm a riqueza, o louvor, etc., estes são resultados de ações passadas que, devido à causalidade, afetam minha vida no presente. Esgotada a força das ações, os resultados que agora desfruto se acabam. Por que, então, alegrar-me com eles? Ocorrendo o ganho ou a perda, que eu aceite o karma. O coração nada sabe de aumentos ou diminuições. Na harmonia silenciosa com o Caminho o vento do prazer não me abala. Isso é o significado de aceitar o karma.
3. Nada desejar significa:
Neste mundo, os homens continuamente confusos, apegam-se sempre aqui e ali. A isto se chama desejo. Os sábios, porém, compreendem a verdade, e em nada se assemelham aos ignorantes. Serenamente seus corações repousam no não-criado, enquanto o corpo se move de acordo com as leis da causalidade. Todas as coisas são vazias e nada vale a pena buscar. Lá onde está o mérito do brilho, também está o demérito da escuridão. Este mundo tríplice, no qual convivemos por tão longo tempo, é como uma casa em chamas. Tudo o que tem um corpo sofre e ninguém sabe realmente o que é a paz. Os sábios nunca se apegam a nada, pois conhecem intimamente esta verdade. Com os pensamentos serenos nada desejam. Assim diz o sutra: "Quando há o desejo, há o sofrimento. Com a cessação do desejo vem a felicidade". Sabemos, deste modo, que nada desejar é o caminho para a verdade. Isto é o que significa "nada desejar".
4. "Estar de acordo com o Dharma" significa:
Que a Inteligência a que chamamos Dharma é pura em sua essência e é o princípio da vacuidade em tudo que se manifesta. Está além das manchas e dos apegos. Nela não há nem eu nem outro. Diz o sutra: "No Dharma não há seres sencientes, pois ele está livre da mancha do ser. No Dharma não há "eu", pois ele está livre da mancha do eu". O entendimento e a confiança nesta verdade tornam as ações dos sábios conformes ao Dharma.
A essência do Dharma é o não desejar e, assim, os sábios estão prontos para a generosidade do corpo, da vida e das propriedades. Em nada lamentam e são livres da má-vontade. Sua compreensão da natureza tríplice da vacuidade, os leva para além da parcialidade e do apego. Devido à sua vontade de limpar as manchas dos seres, eles se adaptam a eles sem se apegar à forma. Esta é a fase do benefício próprio em suas vidas. Mas eles sabem também como ajudar aos demais e louvar a verdade do Despertar. Como é com a virtude da generosidade, assim também com as outras cinco virtudes. Os sábios praticam as seis virtudes transcendentes afastando os pensamentos confusos sem esperarem pelos resultados meritórios destas ações. Isto é o que significa "estar de acordo com o Dharma".
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