20 janeiro 2007

Sandokai - 13º Comentário de Suzuki

Nossa mente e as coisas são uma coisa só. Quando você pensa, "Tudo isto é mente", isto é assim. Se você pensar, "Lá está um outro ser", isto também é assim. Mas chegando direto ao ponto, quando os budistas dizem "isto" ou "aquilo" ou "eu", esse "isto" ou "aquilo" ou "eu" inclui tudo. Escute o tom mais do que apenas as palavras.
O som é diferente do ruído. O som é algo que vem da sua prática. O ruído é algo mais objetivo, algo que pode incomodá-lo. Quando você bate num tambor, o som que você produz é o som de sua própria prática subjetiva e é também o som que encoraja a todos nós. O som é tanto subjetivo quanto objetivo.
No Japão, dizemos hibiki. Hibiki significa "algo que avança e recua como um eco". Se digo algo, terei retorno, para trás e para a frente. É som. Os budistas compreendem o som como algo criado na nossa mente. Posso pensar, "O pássaro está cantando ali". Mas quando eu ouço o pássaro, o pássaro já sou eu. Na realidade, não estou ouvindo o pássaro. O pássaro já está aqui na minha mente e estou cantando junto com o pássaro. Pi-pi-pi. Se você pensar quando estiver estudando, "O gaio azul (Cyanocitta cristata) está cantando no meu telhado, mas seu canto não é tão bom", este pensamento é ruído. Quando você não é perturbado pelos gaios azuis, os gaios azuis penetram no seu coração e você será um gaio azul, o gaio azul estará lendo algo e o gaio azul não perturbará sua leitura. Quando pensamos, "O gaio azul não deveria estar no telhado", este pensamento é uma maneira mais primitiva de ser. Compreendemos coisas desta maneira em função de nossa falta de prática.

Quanto mais você praticar o zazen, mais será capaz de aceitar algo como seu, o que quer que seja. Este é o ensinamento de jiji muge da escola Kegon (Ch. Huayen). Jiji significa "ser que não tem barreiras, nem inquietações". Como as coisas estão interrelacionadas, é difícil dizer, "Isto é um pássaro e isto sou eu". É difícil separar o gaio azul de mim. Isto é jiji muge.

07 janeiro 2007

Sandokai - 11º Comentário de Deshimaru

Os quatro elementos retornam à sua fonte
Assim como uma criança retorna à sua mãe.

Os quatro elementos são os elementos de base de nosso mundo: terra, fogo, água e ar. Estes elementos pertencem ao domínio do obscuro. Apesar disto, em último recurso, eles se resolvem em pura luz, eles retornam à simplicidade última de seus componentes atômicos. O próprio átomo é o resultado de uma situação de equilíbrio entre forças negativas e positivas, forças de atração e repulsão.

A profundeza, que reune, inclui o positivo e o negativo, o centrípeto e o centrífugo, a concentração e a dispersão, o Yang e o Yin... Cada indivíduo é alvo da contradição de duas tendências primordiais: tendência à autonomia, poder de recusa, manifestação da personalidade, sabedoria, de um lado; tendência à comunidade, poder de inserção, atração de outrém, amor do outro, de outro lado. Em zazen, nós integramos completamente essa contradição, uma vez que, no dojo, estamos ao mesmo tempo sós e juntos.

Nosso caráter é castigado com o mesmo tratamento do aço: para reforçar a resistência, é primeiro aquecido ao rubro, depois temperado na água fria antes de ser forjado.

Eu falo sempre na ordem cósmica. Do que se trata exatamente? A ordem cósmica pode ser vista como a combinação, o equilíbrio, a síntese das forças centrífuga e centrípeta. Em todos os fenômenos, estamos em presença da pulsação destas duas tendências opostas e complementares: união e separação, concentração e dispersão, luz e escuridão, força vital e entropia... A flor dos campos abre-se pela manhã e fecha-se à noite. O coração bate ritmadamente em sístole e diástole. As nuvens de hélio e hidrogênio dispersas no espaço interestelar se concentram, condensam-se e fazem nascer uma estrela. Esta, ao fim de sua existência, explode, dispersando no vazio escuro os materiais que servirão à constituição de novas estrelas, novos sistemas solares...

A física nuclear, a astrofísica, a biologia molecular no confirmam cientificamente, nos dias de hoje, o que Mestre Sekito há mais de um milênio, realizou pela prática do zazen. Os fenômenos retornam ao vazio, de onde procedem, e os quatro elementos retornam à sua fonte,como a criança à sua mãe.