Shaolin é o nome da gruta onde Bodhidharma praticava defronte a uma parede. Muitas lendas circulam em torno do nome de Bodhidharma. Diz-se, por exemplo, que ele percorreu o norte da China a pé, atravessou o rio Yangzi Jiang sobre juncos, passou nove anos sem se mover... Seguramente tudo isso é um exagero. Parece que viveu muitos anos, 110 ou 115, e que chegou à China por volta dos anos 500, à época onde o budismo existia pelos sutras. Ele quis fazer compreender que a verdadeira prática de Buda se fazia através do corpo. Não com a cabeça, não sobre o papel. Então sentou-se em zazen numa caverna no norte da China durante longos anos.
Mestre Deshimaru frequentemente falava da paciência de Bodhidharma, dizendo que era um bravo homem, corajoso e não um aventureiro, que não partiu para se divertir, viver aventuras ou fazer turismo. O mesmo se passou com o Mestre Deshimaru quando chegou na França,em Paris. Ele afirmava nunca ter ido visitar a Notre Dame nem museu algum. Para ele a única coisa que contava era praticar. Durante os primeiros anos, ele viveu em um depósito e lá praticou o zazen por muito tempo sobre o cimento. Chegou sem conhecer ninguém e não trazia nenhuma carta de apresentação (1), o que é impensável hoje: todos os mestres que vieram do Japão e se instalaram no ocidente foram enviados pela sua organização.
Bodhidharma também não conhecia ninguém ao chegar na China. Ele simplesmente permaneceu numa gruta no monte Suzan (onde lhe chamavam de 'o brâmane que olha o muro'). Ele veio sem nada. Apenas com seu corpo. E, com seu corpo, praticou zazen. E assim transmitiu a essência. Ele não teve um dojo. Mas, finalmente, não há necessidade de dojo, nem de templo, nem de escritos ou sutras, para transmitir a verdadeira essência do budismo, do Dharma.
Mestre Deshimaru dizia que os sutras são como "escritos sobre a areia à beira do mar". Penso que nehum cristão diria isso sobre a Bíblia... Pois é muito diferente, a religião cristã está baseada em um livro. O budismo, sobretudo o zen, não está baseado em nada. Nem na cabeça da direita, nem na cabeça da esquerda, nem na cabeça do meio. Nem nos dois lados de uma folha de papel, nem mesmo numa folha (2).
1 - Mestre Tokuda que, como o Mestre Deshimaru, foi discípulo do Mestre Kodo Sawaki , também chegou ao Brasil de mãos vazias, sem nada trazer.
2 - Isto vem de uma frase de Fuyo Dokai: "Peço-vos que rejeiteis as duas cabeças e também, a do meio", que significa não se deixar aprisionar nem pelo dualismo, nem pelo monismo.
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