01 agosto 2012

Estudo de sons e cores



Recomenda-se ganhar a margem inteira, mas definitivamente evitar a criação de uma oposição frontal. Pelo lado claro [compreendendo as diferenças] vocês merecem trinta golpes; pelo lado escuro [fundindo em unidade] vocês merecem trinta golpes. Vocês já alcançaram isso. A todas as pessoas não falta, nem mesmo um pouco. Porque vocês não percebem isso? Iluminação não inveja iluminação, mas [vocês não conseguem perceber] simplesmente porque vocês estão presos por sons e cores. Quando os sons e cores prendem a iluminação, não estão sons e cores presos pela iluminação? Embora isto seja assim, liberar os seus corpos em sons e cores, abrindo suas mãos no meio de sons e cores, permanecendo lá empregando seus próprios esforços, certamente vocês podem realizar o pilar firme do Zen e vocês podem perceber o Zen Nirgrantha, ainda que, nem mesmo em sonhos, vocês vejam um Zen ancestral ou o Zen Tathagata*. Como isto é muito doloroso!

Quando vocês erroneamente vestem o manto de sons e cores e buscam vantagens através de formas externas, vocês terão em suas casas pinturas da deusa da boa fortuna, mas vocês também estarão nutrindo a deusa da pobreza.

Quando sem expectativa, de repente vocês quebram o balde laqueado ao estilo dos antepassados, levantam a cabeça e golpeiam seus peitos [numa expressão não mediada], de repente vocês atingem a realização do caminho. Quando uma pessoa realiza o caminho, o eu e o outro, juntos, realizamos o caminho. Em uma manhã de realizar o caminho, o corpo passado e o corpo futuro, juntos, realizam o caminho. Por exemplo, é como [atravessando um rio] em um barco ou uma ponte, o eu e os outros andarem juntos, alcançando e penetrando o caminho. Voltado para o leste ou voltado para o oeste, ao mesmo tempo não há paralisação e não há obstrução de um e de outro. Alguém voltado para o leste e alguém voltado para o oeste podem usar esse único barco. O barco é o mesmo, mas as pessoas são diferentes. Indo para o leste ou para oeste, cada pessoa chega a seu destino. Esta é a característica da iluminação. Quando realizamos o caminho, não realizamos com algo mais, realizamos apenas com sons e cores. Quando estamos iludidos, não estamos iludidos com algo mais, estamos iludidos apenas com sons e cores. Uma pessoa iludida e uma pessoa iluminada utilizam ao mesmo tempo um barco, e cada uma delas não é obstruída.

Nos tempos antigos, certa vez um monge perguntou a Fayan, "Como eu posso transcender as duas palavras, som e cor?"

Fayan disse, "Grande assembleia, se vocês entenderem o ponto desta questão deste monge, não é difícil transcender o som e a cor".

Como podemos investigar essa circunstância [da história]? Com seus ouvidos, ouçam o alaúde sem cordas, e com os seus olhos, vejam a árvore sem sombra. Grandes praticantes têm conhecido tal princípio. No entanto, há um ponto que vocês precisam entender em detalhes. Com seus ouvidos, [também] ouçam o alaúde que tem cordas, com os seus olhos, vejam a árvore que tem sombra. Vocês já são assim. Agora eu pergunto à grande assembleia, que coisas vocês chamam de sons e cores? Onde estão os sons e cores agora?

 (Dogen Eihei Koroku, Fala do Salão do Dharma #52)

*Nirgrantha Jnatiputra, também conhecido como Mahavira. é o nome do fundador do jainismo,  contemporâneo com Buda Shakyamuni. A tradição Jain enfatiza o ascetismo e renúncia ao mundo, por isso, aqui, "Zen Nirgrantha” pode ser uma expressão de Dogen para a prática que tenta rejeitar o reino de som e cores. " Pilar firme do Zen " é uma expressão original que aqui pode implicar apenas na compreensão ou meditação em silêncio, sem expressão aberta e partilha do ensinamento no mundo fora do salão do Dharma. Por isso, essa frase pode ser interpretada como dizendo que a rejeição do reino de sons e cores é outra forma de apego ao reino de sons e cores. "Zen ancestral" tradicionalmente refere-se à pratica como ela funciona na atividade diária normal. "Zen Tathagata" refere-se à pratica baseada nos ensinamentos dos sutras. (Comentário de Taigen Dan Leighton)

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