06 outubro 2009

VOCÊ JÁ ESTÁ NO CAMINHO


“O caminho está completamente presente exatamente onde estás,
Então do que adianta a prática?”

“Exatamente onde estás” é aqui, exatamente agora. Agora. Agora. Agora. Isto quer dizer residindo pacificamente aqui exatamente agora. Não é bom procurar o Caminho em outro lugar que não aquele onde se está exatamente agora. Uma vez que o Caminho está sempre exatamente aqui, essencialmente não há necessidade de shikantaza, prática de koans, ou de acompanhar a respiração. Resumindo uma vez mais, “exatamente aqui”, também pode ser expresso de outras maneiras, tais como “pacificamente habitando dentro da lei da causalidade”. De outro modo não há caminho para a prática. Se vocês podem viver desta forma, então não há necessidade de dar nem mesmo um passo na direção da prática.

Esta passagem é sobre a condição exatamente agora e a condição da prática. Essas palavras foram escritas a partir da perspectiva de alguém que alcançou o Dharma. Do ponto de vista do Dharma, não há dúvida de que é este caminho. Mas não é assim para as pessoas. A despeito do quanto saibam, as paixões ilusórias (cobiça, raiva e ignorância) ou a iluminação sempre lhes acompanham. Consequentemente, o estado real da suas vidas será de sofrimento.

Os seres humanos experimentam uma ampla gama de estados emocionais e racionais, incluindo alegria, raiva, tristeza, compreensão e não compreensão. Todos são parte do Dharma ou Caminho. Nós podemos livremente sentir essas coisas, livremente pensar essas coisas. Que outra liberdade além desta estariam procurando? Eu realmente gostaria que vocês acreditassem que, nas nossas condições atuais, nós estamos dotados do Dharma, neste caminho.

Durante os quarenta e nove anos que o Buda Xaquiamuni expôs o Dharma, ele nunca disse, “Acreditem em mim”. Diferentemente, ele sempre disse, “Acreditem no Dharma. Acreditem em vocês mesmos”. Isto é algo em que vocês devem acreditar resolutamente. Se não o fizerem, sua prática não será clara. Porque vocês não podem acreditar completamente que a prática do Zen é o estudo de si mesmo, é que vocês começam a procurar o Dharma no raciocínio ou nos ensinamentos de Budismo. Ou procurar em outro lugar e sair correndo para a direção oposta. Esta parece ser a sua condição atual.

A prática do Amida Butsu, ou Amithaba, é disseminada no Japão. Eu acho que muitos de vocês sabem que ela envolve a recitação de “Namu Amida Butsu” enquanto se faz uma prostração. No Zen Budismo, uma pessoa que recita “Namu Amida Butsu” já é Amida Butsu. O objeto em direção ao qual as pessoas se prostram, principalmente Amida Butsu, e a pessoa que está fazendo a prostração são uma coisa só.

Esta parte agora é muito importante. Quando você resolveu acreditar, não é bom que a crença permaneça. Acreditar quer dizer que há alguém (“você”) que está acreditando. Em outras palavras, quando se acredita em algo verdadeiramente, a crença deve desaparecer. Eu gostaria que vocês compreendessem claramente que devem abandonar aquilo em que estão acreditando. A condição da crença pura é absoluta. É uma condição onde dúvidas e crença, num sentido dualístico, desapareceram. Crença e dúvida, crença e descrença são, ao fim, as ideias de pessoas. A condição onde crença e dúvida desapareceram é o que chamamos de “Dharma” ou “Caminho” ou “agora”.

Há uma metáfora que ilustra o quão isto é difícil. É comparável à imensa improbabilidade de, tendo uma agulha caído no fundo do mar, um fio de seda que caia do céu passe pelo buraco daquela agulha.
(6ª e última parte do 1º Comentário de Harada sobre o Fukanzazengi)

Nenhum comentário: