Do ponto de vista do Dharma, nós somos essencialmente a própria liberdade. Nós já somos liberados, um corpo completamente livre. Mas do ponto de vista do eu-ego, não é nada assim. Todos os tipos de restrições surgem por conta do eu-ego. Continuemos com o texto.
"Contudo, o fato é que se houver a menor diferença desde o começo, entre você e o caminho, o resultado será uma separação maior ainda que aquela entre o céu e a terra".
Se o eu-ego for percebido mesmo no menor detalhe, quanto mais vocês praticarem, mais vocês se afastarão do Caminho, do Dharma e do Zen. Vocês se distanciarão cada vez mais das coisas.
"Se surgir o menor pensamento dualista, perderás tua mente de Buda".
ou
"Se o menor gostar ou não gostar surge, a mente se perde em confusão".
ou
"Se o menor gostar ou não gostar surge, a mente se perde em confusão".
Porque não sabemos que o caminho é essencialmente um, ficamos aborrecidos quando não gostamos de algo e mergulhamos em desejos quando gostamos de algo. Daí a expressão “se o menor gostar ou não gostar surge” (pensamento dualista).
“A mente se perde em confusão” (“perderás tua mente de Buda”) refere-se a perda e ganho ou amor e ódio, isto e aquilo, bom e mau. Isto significa ver uma coisa como duas. Estas duas coisas colidem e caem no reino dos demônios lutadores, ou asuras. Chega ao ponto em que duvidamos até mesmo do significado de nossa existência como seres humanos. Isto acontece porque não esclarecemos a natureza de nossa mente real, de nosso Eu verdadeiro, ou da Verdade. Como se diz frequentemente, a ilusão consiste em ver uma coisa como duas. É o sofrimento de dividir e comparar. Iluminação significa realizar que enquanto as coisas estão separadas, essencialmente tudo é um.
Deste ponto em diante no Fukanzazengi, Dogen escreve sobre várias precauções que se deve tomar no que diz respeito ao caminho da prática. Ele assim procede para corrigir os erros que surgem na prática de tal forma que possamos nos mover na direção correta. De qualquer modo, o objetivo primário é esquecer o eu-ego.
Todo o dia recitamos os “Quatro votos do Bodhisattva”. O primeiro voto é conduzir todos os seres do lado da ilusão para o lado da iluminação. A fim de conseguir isto, o segundo voto é eliminar todas as paixões ilusórias, por mais que inexauríveis. O terceiro voto é estudar todos os ensinamentos do Dharma, por mais numerosos que sejam. São os ensinamentos do Buda Xaquiamuni, os chamados 84.000 portões do Dharma. Finalmente, fazemos o voto de alcançar o intransponível Caminho do Buda. Este é o voto que fazemos para esclarecer o Caminho, em outras palavras, o esforço que prometemos fazer para compreender o Eu verdadeiro.
Recitamos esses versos de novo e de novo para que nossa prática não se encerre simplesmente na nossa auto-satisfação.
(1ª e 2ª partes do 2º Comentário de Harada sobre o Fukanzazengi)
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