Os princípios fundamentais da lógica Zen são radicalmente distintos daqueles da dialética que, de Patão a Hegel e Marx, regeram a filosofia ocidental. Chamam-se Go I (Go: cinco; I: princípios), e articulam dois termos em conco etapas. Seja A o primeiro termo: os fenômenos (shiki), a noção de oblíquo ou de diferença; B, o segundo termo: a essência ou o vazio (ku), a noção de reto ou de igualdade. Tem-se sucessivamente:
1. A entra em B
2. B entra em A
3. B é B
4. A é A
5. A e B se interpenetram
2. B entra em A
3. B é B
4. A é A
5. A e B se interpenetram
O quinto princípio resume, sintetiza e ultrapassa os quatro outros. Os Go I constituem uma chave para compreender o sentido profundo dos textos Zen tradicionais.
Por exemplo, no Sandokai, encontra-se:
“A escuridão existe na luz.
A luz existe na escuridão”.
Mas a escuridão é a escuridão, e a luz é a luz.
Ou bem, pode-se dizer: as ilusões tornam-se satori e o satori torna-se ilusões. Isto dito, as ilusões são ilusões, e o satori é o satori!
O quinto princípio, que engloba a totalidade das relações, é Hishiryo. E, na vida quotidiana, o homem é homem, a mulher é mulher, mas, no amor, o homem entra na mulher, a mulher entra no homem, e os dois se interpenetram.
Um dia, um monge perguntou ao Mestre Fuyodo Kai: “Explicai-me, suplico, “Meia-noite é a verdadeira luz. A alvorada não é clara”. Mestre Fuyodo Kai respondeu com este poema:
“Neste barco já cheio de mercadorias,
Não se pode colocar a lua.
O pescador vivia nos espessos canaviais”.
O pescador é o pescador, mas, nos canaviais espessos e densos, ele não pode ver claramente o despertar do dia. Esse barco, cheio de mercadorias, apesar disto, carrega consigo a lua e sua luz. Porque levá-la? Ela já lá está naturalmente, inconscientemente. É meia-noite, a lua brilha, inconsciente e natural.O pescador vive num meio escuro. Como poderia perceber o sol através da espessa cortina dos canaviais?
“Esse barco navegando à noite,
Sob a claridade da lua,
Num sulco luminoso de prata.
O mar brilha,
Sob a claridade da lua,
E a paisagem banha-se na lua”.
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