25 fevereiro 2014

O que é Zen (3): Zazen


Escolha um lugar para sentar


É melhor reservar um lugar para praticar o zazen regularmente. Seja um quarto ou apenas um canto, o espaço deve ser limpo e organizado. Coloque um colchonete no chão (um cobertor dobrado serve) e sobre ele um zafu (1), um tipo de almofada confortável para sentar ou um banco. Se sentar no chão for muito difícil, simplesmente use uma cadeira.

Preparando-se para sentar


Quando você for fazer zazen, use roupas folgadas e limpas. Ao começar um período de sentar-se, é tradicional fazer uma reverência para um altar, oferecer uma vareta de incenso, e fazer mais uma reverência. Então, quando você estiver diante de seu assento, faça uma reverência em direção à sua almofada, banco, ou cadeira, e outra para fora. Esses atos nos ajudam a perceber nossa intenção e respeito. O incenso é oferecido com a intenção de que aquela sessão seja dedicada a todos os seres, a toda a criação, e não apenas para si mesmo. A reverência de pé no sentido de nossa almofada e para fora, atualiza o nosso respeito para com a nossa prática e para aqueles que, presentes ou não, praticam com a gente. O ato físico de se curvar para a reverência, de dobrar o corpo para baixo, colocando a nossa cabeça em uma posição tradicionalmente respeitosa de vulnerabilidade, dá ao ego uma grande oportunidade de se deixar levar. Quando você estiver sentado - seja de pernas cruzadas, de joelhos ou em uma cadeira – adote a postura de zazen: coloque as mãos sobre o colo ou coxas, na posição do mudra cósmico, sua mão direita segurando a sua esquerda, com as palmas para cima, com os seus polegares mal se tocando e formando um círculo (2).

Faça isso, contando sua respiração, mantendo a sua postura e sentado quieto, durante um período de zazen de 20 minutos. Observe que os estímulos para se mexer - coçar seu nariz, puxar sua orelha - geralmente são maneiras de se afastar das energias de seu corpo. Em vez de se mexer, fique com esses estímulos, observe-os, e traga o foco de volta para a respiração. Aprenda a observar como esses impulsos somem, apenas para serem substituídos por outros, como demonstra a segunda nobre verdade: a causa do sofrimento é o desejo. Todas as ideias disparatadas, pensamentos, impulsos, tudo vai e vem, e ainda assim você se senta. E pouco a pouco a conversa cai fora e seu corpo, respiração e mente se tornam uma coisa só. Zazen é tão simples! Nós nos concentramos em nossa postura e na contagem de nossa respiração, e isso desenvolve o samadhi , uma mente unificada. Mas a prática não é sobre como alcançar o "dez". Trata-se de treinar o corpo e a mente. Deixar o corpo se aquietar, deixar a respiração se aquietar, deixar a mente se aquietar. Não se preocupe em saber se a sua prática está funcionando, não julgue o seu desempenho, não conte histórias para você ou encontre outras maneiras de evitar aquele exato momento. Essas são apenas formas de separar-nos de nossa mais profunda intenção e de nosso zazen. Quando você fizer zazen, apenas faça zazen. Isto basta.
(Roshi Pat Enkyo O’Hara)
(1) Zafu 









(2) Vejam vídeos na barra lateral do blog

15 fevereiro 2014

O que é Zen (2): A Prática



Há um termo na tradição celta que me soa como algo fundamental sobre a prática zen. Os celtas falam de “lugares finos”, lugares como cavernas ou poços ou outros locais especiais, onde a fronteira entre o mundano e mágico é permeável. Para mim, a prática Zen oferece um tipo de “lugar fino”, um “lugar” onde podemos descobrir que não há, fundamentalmente, nenhuma separação entre nós e os outros; que o que buscamos está sempre muito perto, sempre bem aqui. Narra a parábola da casa em chamas do Sutra do Lótus, que a única saída para a nossa ganância, raiva e ignorância é através de uma “porta estreita”. A porta estreita, o “lugar fino”, ou qualquer uma de inúmeras metáforas, nos aponta no sentido da nossa própria realização. Uma porta, um portão, ou um limiar, indica que há esforço, movimento, investimento na transformação.


No coração da prática do Zen está o zazen, a meditação sentada. Um mestre disse que escutar e pensar são como estar do lado de fora do portão, e que o zazen é como voltar para casa e sentar-se em paz. O zazen é realmente uma prática muito simples e não requer instruções complicadas. Quando estudamos os antigos manuais de meditação Zen, sempre nos surpreendemos como são breves e simples. Ao mesmo tempo em que falam da possibilidade de alcançar a liberdade e naturalidade de um tigre nas montanhas ou de um dragão na água, as instruções reais são muito concretas. Sentar na postura correta e cuidar do corpo, da respiração e da mente.
(Roshi Pat Enkyo O’Hara)

01 fevereiro 2014

O que é Zen (1)


A palavra "Zen" é empregada de forma tão descuidada no mundo comercial, no mundo do design, no mundo esotérico e na cultura popular em geral, que, para alguém que desconheça seu sentido como uma tradição espiritual autêntica, tornou-se demasiado vaga para adquirir tal significado.

O verdadeiro Zen consiste na prática de retornar ao Eu real aqui-e-agora-neste momento, regressando à naturalidade, à intimidade e à simplicidade de nossa verdadeira natureza. A prática Zen não é nos afastarmos da nossa vida como ela é; é sobre entrar em nossa vida como ela é, com toda a sua vivacidade, beleza, sofrimento, alegria e tristeza. O Zen é um caminho de despertar: despertar para quem realmente somos, e despertar a vontade de servirmos aos outros e assumirmos a responsabilidade por tudo que é vida.
(Roshi Pat Enkyo O’Hara)