Com os olhos continuamente mantidos abertos, ...
Numa entrevista realizada com lutadores de artes marciais e intitulada "A vida é um combate" (1), Mestre Deshimaru fala da importância dos olhos. Ele conta como, quando os olhos do adversário se movem, se perturbam, exitam, este é o momento em que o outro ataca. É pelos olhos que se enxerga a fraqueza de seu adversário.
Um dia, no dojo de Pernety, assisti a um combate de dois mestres de kendo. O Mestre Deshimaru lá estava com seus discípulos. Um dos dois mestres era bem idoso. Ele estava no 13º dan (o que fazia rir o Mestre Deshimaru que não havia ultrapassado o 6º dan, ao qual havia atingido faz muito tempo...). Então os dois mestres se confrontaram sem mover uma pestana. Eles se olhavam nos olhos. Ao final, o velho mestre ganhou, mas foi difícil saber porque. Poder-se-ia quase dizer que a luta foi combinada antes.
Assim, nos diz Dogen, os olhos devem permancer sempre abertos, um pouco abertos focalizados sobre nada. Se a cabeça estiver bem reta com os ombros e o queixo naturalmente reentrado, automaticamente o olhar cai a cerca de um metro de nós. O olhar se dirige ao interior de nós mesmos. O ensinamento de Buda começou antes de Buda. Ele começou quando o primeiro homem que olhou a si próprio.
Mestre Hetsu disse que "os que praticam zazen com os olhos fechados são semelhantes aos demônios na caverna negra" (2). Essa caverna de demônios é uma imagem, uma metáfora zen. A vida no interior dessa caverna de demônios é a vida daquele que está fechado com seu ego apenas. Quando fechamos os olhos, podemos, com efeito, ficar confortavelmente instalados com nossos fantasmas, nossos sonhos, nossa imaginação, o que não é possível quando ficamos com os olhos semi-cerrados e dirigidos ao nosso interior. E esse conforto não tem nada absolutamente a ver com a tranquilidade profunda do zazen. Zazen não é a calma da caverna dos demônios, nem tampouco a paz de nossos pensamentos agradáveis.
(1) Isso não é dito num espírito de competição, de "quem é o mais forte" ou de "quem vai ganhar", o que é apenas uma falsa visão da vida. Trata-se de um combate de si-mesmo contra si-mesmo, com seu ego. "A vida é um combate" quer simplesmente dizer que é preferível não contar com um outro, não ter fé em um outro homem. Melhor ter fé no Dharma.
(2) Diz-se às vezes caverna da montanha negra.
...devemos respirar calmamente pelas narinas.
Em zazen, não é preciso fazer ruido com a respiração. Pela necessidade de inspirar e expirar muito ar, não é a quantidade que importa, mas a profundidade. E se nos concertrarmos na profundidade não faremos nenhum ruido.
Hoje em dia, os instrutores falam muito da respiração e, nos mondo, as pessoas fazem muitas perguntas a esse respeito. Nos tempos antigos, tratava-se de um ensinamento secreto, destinado exclusivamente aos discípulos que tinham cerca de dez anos de prática atrás deles. Hoje em dia, estamos sempre apressados, queremos aprender tudo e depressa. Rapidamente, aprendemos a prática em todos os detalhes, o corpo, a respiração, a mente. Depois como coser um rakusu, um kesa, depois como tomar os votos de boddhisattva, nos ordenarmos monge, monja. E depois que compreendemos tudo isso, vamos embora...
Dogen nos diz para respirarmos "calmamente", calma e imperceptivelmente. E, desse maneira, os pensamentos cessam. O corpo harmoniza-se com a mente ou a mente harmoniza-se com o corpo e, então, a sabedoria pode surgir.
Um comentário:
OlÁ Noronha, só não entendi de quem foi o comentário do porquê do Mestre de Kendo mais antigo ter ganhado a luta. Eu nunca soube da existência de um sensei com o 13 dan, mas se havia mesmo é claro que ele ganharia de qualquer dan abaixo dele. Não entendi mesmo de quem é o comentário de "não saber porque o mais velho ganhou a luta.", isso é comum no Kendo. Esse comentário não foi do MEstre Deshimaru náo, né? E a propósito , quem é Coupey? tenho lido os comentários dele sobre o Fukanzazengi. obrigada.
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