O Caminho é fundamentalmente perfeito. Ele tudo penetra. Como poderia depender da prática e da realização? O veículo do Dharma é livre e desimpedido de qualquer obstáculo. Em que o esforço humano concentrado se faz necessário?
Aqui o Mestre Dogen coloca uma questão essencial: já que o Caminho é fundamentalmente perfeito e que tudo penetra, porque seria necessário praticar?
Mestre Dogen certamente conhecia o mondo que teve lugar entre o Mestre Eno e um monge nos anos 700 na China. O monge pergunta a Eno:
- Hoje em dia, todos os mestres chan dizem que se alguém deseja realizar o Caminho, deve praticar dhyāna (isto é, zazen) e samādhi. Estais de acordo?
- O Caminho depende do despertar do espírito. Como poderia depender do zazen?, responde Eno.
O Caminho, nos diz Dogen, não depende nem da prática nem do satori de Buda ou dos outros mestres. Não se escuta isto frequentemente nas diferentes escolas budistas, na realidade, escuta-se mais o contrário... Por outro lado, reencontra-se essa maneira de se expressar – ‘não temos necessidade de praticar para obter o despertar’ – entre os eruditos e os especialistas do budismo. Para eles, não teríamos necessidade de praticar porque já estamos despertos. Pode-se assim constatar, quando se toma um livro traduzido por um erudito, e certamente com eficácia, que ele dedica frequentemente seu livro não ao seu mestre, porque ele não tem, mas a Eno, o sexto patriarca. Por quê? Precisamente porque Eno afirma que o despertar não depende do zazen.
As pessoas impressionadas por essa resposta tomam-na imediatamente, e essa interpretação acomoda-as e lhes permite não mover suas nádegas... É verdade que a longo prazo a prática nem sempre é fácil, sobretudo quando se realiza que é preciso praticar com os outros – o que fizeram em toda sua vida o Mestre Deshimaru e o Xaquiamuni Buda, para citar apenas esses. Mas seria necessário tentar compreender profundamente o que Eno e Dogen queriam dizer. Pessoalmente, não tenho nenhuma dúvida sobre a absoluta necessidade da prática do sentar-se diante de uma parede, sem finalidade, sem objeto. E, se o Caminho não depende nem da prática nem do satori, é que, para mim, o Caminho já existe em nós mesmos. Não nos outros. Não em outro lugar. Aquilo que Dogen e Eno querem dizer é: porque seria necessário acrescentar o que quer que seja a nós mesmos, ao nosso ego? O Caminha tudo penetra, logo não há nenhuma necessidade de procurar o satori.
Mestre Dogen, ainda um simples praticante no templo Tendai no Monte Hiei, tinha suas dúvidas. Ele era muito jovem e seguia o Mestre Koin, abade de um templo Tendai. Naquela época ele não pensava, como escreveria mais tarde, que “o Caminho é fundamentalmente perfeito” e que “ele tudo penetra”. Ele pensava a partir do espírito mais comum – o espírito daquele que se engaja na prática pela primeira vez (sotapanna – “aquele que entrou na corrente”).
Um dia, Dogen perguntou ao abade:
- Já que os sutras dizem que todos os seres humanos têm a natureza Buda, porque é preciso praticar esse zazen tão difícil? Já que todos têm essa natureza, porque há necessidade de realizá-la, de atingir o satori?
O abade nada disse, não sabendo o que responder. Talvez não tivesse nada a dizer. Dogen ficou muito decepcionado com seu silêncio. Algum tempo depois, o abade lhe disse:
- Dogen, é preciso que vás ver o mestre rinzai Eisai, ele é mais dotado do que eu, ele poderá te responder.
Dogen então partiu ao encontro de Eisai, com a única intenção de lhe colocar a questão. Ao fim de uma árdua viagem, ele encontra Eisai e lhe pergunta:
- Porque praticar já que todos têm, desde o início, a natureza de Buda?
E Eisai lhe responde:
- Entre todos os budas, nos três mundos (passado, presente e futuro), nenhum sabe que tem a natureza buda. Mas os gatos e as vacas sabem muito bem.
Mestre Dogen certamente conhecia o mondo que teve lugar entre o Mestre Eno e um monge nos anos 700 na China. O monge pergunta a Eno:
- Hoje em dia, todos os mestres chan dizem que se alguém deseja realizar o Caminho, deve praticar dhyāna (isto é, zazen) e samādhi. Estais de acordo?
- O Caminho depende do despertar do espírito. Como poderia depender do zazen?, responde Eno.
O Caminho, nos diz Dogen, não depende nem da prática nem do satori de Buda ou dos outros mestres. Não se escuta isto frequentemente nas diferentes escolas budistas, na realidade, escuta-se mais o contrário... Por outro lado, reencontra-se essa maneira de se expressar – ‘não temos necessidade de praticar para obter o despertar’ – entre os eruditos e os especialistas do budismo. Para eles, não teríamos necessidade de praticar porque já estamos despertos. Pode-se assim constatar, quando se toma um livro traduzido por um erudito, e certamente com eficácia, que ele dedica frequentemente seu livro não ao seu mestre, porque ele não tem, mas a Eno, o sexto patriarca. Por quê? Precisamente porque Eno afirma que o despertar não depende do zazen.
As pessoas impressionadas por essa resposta tomam-na imediatamente, e essa interpretação acomoda-as e lhes permite não mover suas nádegas... É verdade que a longo prazo a prática nem sempre é fácil, sobretudo quando se realiza que é preciso praticar com os outros – o que fizeram em toda sua vida o Mestre Deshimaru e o Xaquiamuni Buda, para citar apenas esses. Mas seria necessário tentar compreender profundamente o que Eno e Dogen queriam dizer. Pessoalmente, não tenho nenhuma dúvida sobre a absoluta necessidade da prática do sentar-se diante de uma parede, sem finalidade, sem objeto. E, se o Caminho não depende nem da prática nem do satori, é que, para mim, o Caminho já existe em nós mesmos. Não nos outros. Não em outro lugar. Aquilo que Dogen e Eno querem dizer é: porque seria necessário acrescentar o que quer que seja a nós mesmos, ao nosso ego? O Caminha tudo penetra, logo não há nenhuma necessidade de procurar o satori.
Mestre Dogen, ainda um simples praticante no templo Tendai no Monte Hiei, tinha suas dúvidas. Ele era muito jovem e seguia o Mestre Koin, abade de um templo Tendai. Naquela época ele não pensava, como escreveria mais tarde, que “o Caminho é fundamentalmente perfeito” e que “ele tudo penetra”. Ele pensava a partir do espírito mais comum – o espírito daquele que se engaja na prática pela primeira vez (sotapanna – “aquele que entrou na corrente”).
Um dia, Dogen perguntou ao abade:
- Já que os sutras dizem que todos os seres humanos têm a natureza Buda, porque é preciso praticar esse zazen tão difícil? Já que todos têm essa natureza, porque há necessidade de realizá-la, de atingir o satori?
O abade nada disse, não sabendo o que responder. Talvez não tivesse nada a dizer. Dogen ficou muito decepcionado com seu silêncio. Algum tempo depois, o abade lhe disse:
- Dogen, é preciso que vás ver o mestre rinzai Eisai, ele é mais dotado do que eu, ele poderá te responder.
Dogen então partiu ao encontro de Eisai, com a única intenção de lhe colocar a questão. Ao fim de uma árdua viagem, ele encontra Eisai e lhe pergunta:
- Porque praticar já que todos têm, desde o início, a natureza de Buda?
E Eisai lhe responde:
- Entre todos os budas, nos três mundos (passado, presente e futuro), nenhum sabe que tem a natureza buda. Mas os gatos e as vacas sabem muito bem.
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