27 dezembro 2009

COMO SENTAR EM ZAZEN



Ao fazermos zazen, é desejável que tenhamos um quarto calmo. Devemos ser moderados no comer e beber.

O texto do Fukanzazengi visto até agora é basicamente um prefácio. De agora em diante, chegamos ao núcleo real do zazen. Em resumo, zazen não é um meio. Uma vez que já é o resultado, zazen é a condição onde corpo e mente caíram. Como o zazen é o resultado final, eu gostaria que vocês compreendessem que, no caso do Zen, não se trata de fazer algo daqui em diante. Causa e efeito são simultâneos. Por favor, entendam que o zazen não é um meio de atingir algo – ele é o resultado final. O problema é que enquanto estamos exatamente no meio do resultado, nós não podemos verificá-lo como sendo nosso. Por esta razão, ainda que sejamos o próprio resultado, nós vamos buscar outro resultado. Isto não está de acordo com o Dharma. No entanto, o hábito de buscar resultados nos é trazido pelo funcionamento do eu-ego. Por isto é que preciso esquecer este eu-ego.

Porque não podemos verificar diretamente o resultado como-ele-é? Eu gostaria de lembrar-lhes que isto é devido à ignorância “sem começo”. Esta ignorância é algo que todos os budas do passado certamente possuíram, incluindo o Buda Xaquiamuni e Bodhidharma. Ninguém nasce um buda. Eu gostaria de enfatizar isso. Xaquiamuni, antes de realizar a unicidade com a estrela da manhã, vivia numa condição de ilusão e ignorância, tal como nós agora. Sua mente não estava em paz e ele estava no meio de um grande conflito do qual não conseguia se libertar. Ele estava exatamente na mesma situação difícil em que nos encontramos agora.

É melhor praticar o zazen num lugar tão quieto quanto possível. Aqueles que são novatos no zazen estão particularmente vulneráveis a distrações que vêm de fora. Por esta razão, escolham um lugar com tão poucas distrações quanto possível. Também comam e bebam moderadamente – muita comida fará com que nos sintamos sonolentos.
(Primeira parte do 3º Comentário de Harada sobre o Fukanzazengi)

17 dezembro 2009

RENUNCIANDO AO EU-EGO


“Devemos prestar atenção ao fato que mesmo o Buda Shakyamuni praticou zazen durante seis anos. Dizem também que Bodidharma teve que praticar zazen no templo de Shao-lin durante nove anos para poder transmitir a mente-de-Buda. Já que estes sábios de antanho eram tão diligentes, como podem os praticantes do dia presente deixarem de praticar o zazen? Devemos parar de correr atrás de palavras e de letras e aprendermos a nos retirar e refletir sobre nós mesmos”[“Aprendam o passo atrás que acende a luz interior para iluminar o Eu”].

Aqui Dogen nos adverte para que não sejamos negligentes com nossa prática. E devemos também notar que não podemos encontrar Zen ou iluminação nos registros deixados pelo Buda Xaquiamuni, Bodhidharma ou outros iluminados que transmitiram o Dharma. Demos lembrar quando praticamos que a prática Zen requer que devamos “parar de correr atrás de palavras e de letras e aprendermos a nos retirar e refletir sobre nós mesmos”. “Correr atrás de palavras e de letras” refere-se ao reino da consciência. Significa que não importa quantos sutras e comentários vocês tenham lido, ou quantas palestras sobre os registros dos budas e iluminados vocês tenham escutado, tudo isto ocorre no reino da consciência. Vocês nunca deixam o reino da consciência.

Como devemos cuidar de esquecer o ego-eu? Quando vocês perceberem – quando vocês virem ou ouvirem e assim por diante – façam cada coisa voltar para trás para vocês mesmos. Este é o “passo atrás que acende a luz interior”. Então perguntem, “Quem é que vê?” "Quem é que ouve?” Perseguindo e estudando isto, a divisão entre a coisa vendo e a coisa vista desaparecerá. Isto quer dizer que quando vocês virem, façam-no completamente, e quando ouvirem, façam-no rigorosamente.

Alguns dentre em vocês que estão fazendo shinkantaza receberam instruções para se imaginarem temporariamente como um espelho. Nem o próprio espelho que reflete uma imagem nem a imagem refletida no espelho se dão conta do que está acontecendo. Disseram para vocês se sentarem como um espelho desta maneira. Mas a coisa estranha é que as pessoas habitualmente checam para ver o que está refletido no espelho. Eu penso que esta é a condição contínua do zazen de vocês. Esta espiadela para ver o que está no espelho é que chamamos de função da consciência do ego-eu. Isto tem que parar.

Uma outra expressão de Dogen, similar ao “dar um passo atrás para realizar o Caminho”, é “Levantar o Eu e levá-lo adiante para verificar as coisas chama-se ilusão. Quando as coisas aparecem e confirmam o Eu, isto se chama iluminação”.

Ao fazermos isso, nosso corpo e mente naturalmente cairão fora, e nossa natureza original de Buda aparecerá. Se desejarmos realizar a sabedoria do Buda, devemos começar a praticar imediatamente.

Quando vocês perseveram nessa prática de esquecer o eu pequeno e individual, corpo e mente cairão naturalmente. Não esperem até amanhã para fazerem as coisas sobre as quais lhes tenho falado. Não esperem até que tenham compreendido rigorosamente o princípio. Façam o esforço imediatamente agora. “Imediatamente” quer dizer sem a intervenção de pensamentos. Há uma expressão “esquecer sentando”. Eu gostaria que vocês se absorvessem em zazen até o ponto em que se esquecessem sentando.
(Última parte do 2º Comentário de Harada sobre o Fukanzazengi)