Agora há o súbito e o gradual,
nos quais os ensinamentos aparecem e desaparecem.
Desde Bodidharma até o sexto patriarca Eno, a linhagem é pura, simples e sem complicações, apenas de Mestre a Mestre. Mas, já a partir do quinto patriarca, Mestre Konin, houve cisão. Afim de testar seus discípulos, Mestre Konin pediu-lhes que escrevessem um poema. Jinshu, o mais antigo, passava por ter uma compreensão muito profunda do Zen. Eno, jovem discípulo, muito recente e completamente iletrado, sem saber ler nem escrever, não podia ser ordenado monge, e era apenas assistente do cozinheiro. O poema de Jinshu era considerado o melhor:
“Nosso corpo é como a árvore de Bodhi.
O espírito é como um espelho precioso.
Assim devemos todo dia limpar sua poeira”.
Se praticais a cada dia, acabareis por obter o satori. Passo a passo, é o Zen gradual.
Eno, o cozinheiro assistente, olhou o poema e pediu a um de seus amigos que lho lesse.
“Oh, é um grande poema, Jinshu tornar-se-á certamente o sucessor de nosso Mestre”, disse-lhe o amigo, e leu-lhe o poema.
“É um erro, respondeu Eno. Não é o verdadeiro Zen. Jamais nosso Mestre ensinou tais coisas. Eu escutei suas conferências e não acho que esse poema seja a essência de seus ensinamentos. Escreva este aqui:
“O espelho precioso não é material.
Tudo é nada. Tudo é ku.
Onde poderia a poeira se depositar?”
Eis o Zen súbito. Zazen, ele próprio, é satori, aqui e agora. Esses dois pontos de vistas, apesar de sua contradição, pareceram exatos. No entanto, foi a Eno que o Mestre Konin entregou seu kesa e sua tigela, e ele tornou-se seu sucessor.
“Deves fugir. Meus discípulos ficarão cheios de raiva contra ti. Tu compreendeste o Zen. Obtiveste o satori”.
E as duas escolas se separaram.
“O salgueiro chorão acolhe intimamente, imediatamente, os movimentos mais rápidos do vento que sopra.” Tal é o Zen súbito.
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