Buda não parte em direção aos fenômenos, Buda não permanece, Buda não se apega, as ações de Buda são estáveis, elas não engendram movimentos. Buda proferia seus sermões a inumeráveis pessoas, mas, na realidade, não eram sermões, mas palavras livres. As palavras do Buda são muito profundas, e sem noção alguma de categorias, palavras ilimitadas, e esta profundeza é o infinito do cosmo. Da mesma forma, os bebês não têm medo de nada, eles são livres, livres de falar. Como o Buda. Mas as palavras das crianças são
gugu...
dadá...
Nossa consciência deve se equilibrar entre o córtex, o cérebro profundo e o tálamo.
Em zazen, o cérebro frontal e o córtex entram em repouso, enquanto as camadas profundas, ou cérebro primitivo, e o tálamo estão ativos. O tálamo é influenciado pelos impulsos recebidos do sistema nervoso autônomo. Este sistema recebe informações procedentes dos músculos e dos cinco órgãos dos sentidos. Os músculos, em zazen, estão em estado de tônus forte, correto, exato, e exercem uma influência sobre os nervos.
Os cinco sentidos se acalmam. O cérebro chamado intelectual, sempre ativo na vida quotidiana, conhece um tempo de repouso. No mesmo momento, a casca primitiva e o tálamo entram numa forte atividade. Essas regiões do cérebro podem ser vistas, à luz da filosofia budista tradicional, como o armazém de sementes de memória. Quando pensamos em qualquer coisa, uma conexão neuronal se cria, gerando uma “ação” que se torna uma “semente” de memória no tálamo. Durante o zazen, o cérebro frontal estando em repouso, as sementes armazenadas no tálamo vêm à superfície. Podemos compreender, pelos mecanismos dos sonhos durante o sono, essas elevações das sementes armazenadas. Mas, em zazen, o cérebro não dorme, ele está engajado numa atividade exata e intensa quando nossa postura está correta. No começo do zazen, o cérebro pré-frontal e frontal entra numa fase de repouso. A consciência pessoal se esvanece e, a partir do cérebro primitivo, as lembranças antigas escondidas e armazenadas se elevam. Estas “elevações” param e depois se retomam... É o estado de
Hishiryo. O cérebro está em unidade com o sistema cósmico.
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wawa...
muku muku..., estas palavras correspondem ao que os bebês japoneses fazem. Mas eles não podem indicar seu objeto porque sua linguagem não apenas é sem precisão, mas também sem adorno, sem complicação. Depois, eles desejam falar e usam uma linguagem direta, não racional, não ordenada, e, às vezes, esta linguagem vai direto à fonte. É idêntico ao Zen, direto, simples e sem complicação. O Zen vai diretamente à realidade. Devemos apontar diretamente na na natureza de Buda, sem desvio, ir além do mundo da linguagem e do pensamento, além do mundo dos sentidos, estar em fusão com o sistema cósmico: é a consciência cósmica.
O Mestre pergunta ao discípulo:
- O que fazes?
O discípulo responde:
- Não faço nada.
O Mestre:
- Tu fazes o zazen
mushotoku.
O discípulo, então, lhe responde:
- Se eu tivesse respondido zazen, isto quereria dizer que eu fazia zazen.
O Mestre lhe replica:
- Tu fazes alguma coisa, porque esse “não fazer nada?”
O discípulo então lhe diz:
- Mesmo dez mil Budas não poderiam compreender...
O quê significa este mondo?
Mesmo se respondermos com a linguagem, ao final, esta linguagem não é exata. Não se pode atingir o fundo da questão. Falar do fogo não faz com se sinta o calor. Falar do frio não nos refrescará.
Ainda que nossas palavras estejam corretas, o que quer que se possa dizer, isto não pode ser explicado pela linguagem. Às vezes o silêncio é mais forte que a eloqüência. Os bebês não podem falar. O Buda pode falar, ele explicou numerosos sutras e proferiu numerosos sermões, mas ele disse finalmente: “Eu não posso explicar tudo, acabei de falar, mas meus sermões não estão terminados, eles não são a verdade total”.
O Zen é plantar uma flor sobre a pedra...
É a mais elevada, a maior das sabedorias.