No texto está dito, "Um e todos, o sujeito e o objeto estão relacionados e, ao mesmo tempo, são independentes". Embora todas as coisas estejam interrelacionadas, todos - todos os seres- podem ser chefe. Cada um de nós pode ser um chefe porque estamos intimamente relacionados. Quando digo "João", João já não é apenas João. Ele é um dos estudantes do Centro Zen e ver João é ver o Centro Zen. Quando você vê João, você compreende qual é o Centro Zen. Mas se você pensar, "Ah, ele é apenas o João", sua compreensão não está boa o bastante. Você não sabe quem é João. Quando você tem um bom conhecimento das coisas por elas mesmas, você compreenderá o mundo inteiro através das coisas. Cada um de nós é o chefe do mundo inteiro. Quando você compreender isto, você se dará conta de que todas as coisas estão interrelacionadas, embora elas também sejam independentes. Cada um de nós é completa e absolutamente independente. Nada há para comparar. Vocé não é nada mais que você.
Devemos compreender as coisas de duas maneiras. Uma maneira é compreender que as coisas estão interrelacionadas. Outra, é compreender a nós mesmos como bastante independentes de tudo. Quando incluímos tudo como nós mesmos, somos completamente independentes porque não há nada com o que nos possamos comparar. Se há apenas uma coisa, como você pode comparar algo com ela? Porque não há nada com o que você se possa comparar, isto é independência absoluta, não interrelacionada, absolutamente independente.
Devemos compreender as coisas de duas maneiras. Uma maneira é compreender que as coisas estão interrelacionadas. Outra, é compreender a nós mesmos como bastante independentes de tudo. Quando incluímos tudo como nós mesmos, somos completamente independentes porque não há nada com o que nos possamos comparar. Se há apenas uma coisa, como você pode comparar algo com ela? Porque não há nada com o que você se possa comparar, isto é independência absoluta, não interrelacionada, absolutamente independente.
Em certo momento o texto diz, "sujeito e objeto". Os sentidos - nossos olhos, ouvidos, nariz, lingua e corpo - são portas, e os objetos sensíveis entram por essas portas. Eles são interrelacionados mas ao mesmo tempo, independentes. Para os olhos, há algo a ver, para os ouvidos, algo a ouvir, para o nariz, algo a cheirar, para a língua, algo a degustar, para o corpo, algo a tocar. Há cinco tipos de objetos do sentido para os cinco órgãos dos sentidos. Este é o senso comum budista. A referência a eles no poema é apenas uma maneira de dizer "tudo". É o mesmo que dizer "flores e árvores, pássaros e estrelas, rios e montanhas", embora digamos "cada sentido e seus objetos".
Deste modo os vários seres que vemos e ouvimos estão interrelacionados, embora ao mesmo tempo cada ser seja absolutamente independente e possua seu próprio valor. Este valor chamamos ri. Ri é o que dá significado a algo e não é apenas teoria. Ainda que você não atinja a iluminação, dizemos que você já dispõe da iluminação. Esta illuminação é o que chamamos de ri. O fato de que algo exista aqui é sinal de que há uma razão para isto. Não conheço a razão. Ninguém conhece. Tudo deve ter seu próprio valor. É muito estranho que duas coisas não sejam a mesma. Não há nada com o que você se possa comparar, de tal forma que você tem seu próprio valor. Este valor não é um valor comparativo ou um valor de troca, é mais que isto. Quando você está simplesmente sentando na almofada em zazen, você tem seu próprio valor. Embora este valor esteja relacionado a tudo, este valor também é absoluto. Talvez seja melhor não dizer muito.
"Estão relacionados, mas funcionam diferentemente, mantendo cada um o seu próprio lugar". Um pássaro vem do sul na primavera e volta no outono, atravessando várias montanhas, rios e oceanos. Deste modo, as coisas estão interrelacionadas incessantemente, por toda a parte. Ainda que o pássaro permaneça em algum lugar, em algum lago, por exemplo, seu lar não é apenas o lago, mas também o mundo inteiro. Um pássaro vive desta forma.
Dizemos, às vezes, no Zen que cada um de nós é íngreme como um penhasco. Ninguém pode escalar-nos. Somos completamente independentes. Mas quando você me ouve dizer isto, deve compreender que existe o outro lado também - que estamos incessantemente interrelacionados. Se você não entende as palavras Zen, você não entende o Zen e você ainda não é um estudante Zen. As palavras Zen são diferentes das palavras comuns. Elas cortam em ambas as direções, como uma espada de dois gumes. Você pode pensar que estou cortando para a frente, mas não, estou cortando para trás também. Observe meu bastão. Percebe? Às vezes repreendo um aluno - "Não!". Os outros alunos pensam, "Oh!, ele foi repreendido", mas isto não é assim na realidade. Porque não posso repreender aquele ali, tenho que repreender aquele que está perto de mim. Mas a maior parte das pessoas pensa, "Oh, aquele pobre rapaz está sendo repreendido". Se você pensa desta maneira, você não é um estudante Zen. Quando alguém é repreendido, você deve escutar com atenção; você deve estar bem alerta para saber quem está sendo repreendido. É deste modo que treinamos.
Quando eu era um discípulo muito jovem, meus irmãos de dharma e eu fomos a algum lugar com nosso professor e voltamos muito tarde. Há muitas cobras venenosas no Japão. Meu professor disse, "Vocês estão usando tabi [meias brancas usadas com sandálias] e eu não. Uma cobra pode me picar, vocês vão na frente". Concordamos e caminhamos à sua frente. Assim que chegamos no templo ele nos disse, "Sentem-se todos". Não sabíamos o que havia acontecido, mas sentamo-nos todos à sua frente. "Que rapazes sem consideração vocês são!", disse. "Quando não estou usando tabi, porque vocês usam tabi? Eu adverti vocês: 'Eu não estou usando tabi'. Vocês deviam ter compreendido e tirado seus tabis também, mas em vez disto vocês ficaram com eles e andaram à minha frente. Como vocês são tolos, rapazes!".
Devemos estar alertas o bastante para ouvir o significado por detrás das palavras. Isto é tudo. Devemos dar-nos conta do algo mais que é dito.
Uma noite, quando eu estudava no mosteiro Eihei-ji, abri o lado direito da porta corrediça shoji - porque é costume abrir aquele lado - mas fui repreendido. "Não abra aquele lado!", disse um dos monges mais antigos. Então, na manhã seguinte, abri o lado esquerdo e fui repreendido de novo: "Porque você abriu aquele lado?" Não sabia o que fazer. Quando abria o lado direito, era repreendido, quando abria o lado esquerdo, era repreendido de novo. Não conseguia descobrir porque. Mas finalmente me dei conta de que, na primeira vez, havia um convidado no lado direito e, na segunda, o convidado estava do lado esquerdo. Assim, em ambas as vezes abri o lado que expunha o convidado. Foi por isso que fui repreendido. No mosteiro de Eihei-ji nunca diziam o porquê, simplesmente nos repreendiam. Suas palavras tinham dois gumes.
As palavras do Sandokai também têm dois gumes. Um lado é a interdependência (ego) e um lado é a independência absoluta (fuego). Esta interdependência avança por toda a parte, mas as coisas permanecem em seus próprios lugares. Este é o ponto principal do Sandokai.
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