13 abril 2014

O que é Zen (5, final): Prática diária, preceitos, sentando com outros



A prática diária: Seja constante

O período de zazen que estamos recomendando é de 20 minutos. Você pode achar que vai querer fazer mais, ou menos, tudo bem. O que importa é a constância. Para manter a sua prática constante, lembre-se do que o famoso anúncio da Nike diz: "Apenas faça!" Não se preocupe com a tentativa de chegar a algum lugar ou estado de espírito. O zazen de cada dia será um pouco diferente, assim como o resto de sua vida. Praticamos firmeza na nossa meditação diária, estejamos alertas, sonolentos ou focados, simplesmente praticamos todos os dias, com pontos altos e pontos baixos. Quando fizermos uma misturada na nossa cabeça, apenas dizemos: " Ok, de volta à minha almofada!” Quando estivermos sentados, podemos nos dar conta que estamos em outro lugar. Naquele instante, respiremos fundo e reconheçamos que, naquele momento de realização, voltamos para o agora. Como diz um antigo manual de meditação, assim que nos dermos conta de um pensamento, ele vai desaparecer! Quando estamos pensando em uma coisa, ficamos perdidos nela, perdidos no pensamento sobre "x". Mas quando nos tornamos conscientes de nosso pensamento, então ele passa para um plano secundário. O pensamento real de "x" se vai, e há apenas consciência dele ou começamos um novo pensamento com base nessa percepção. De qualquer forma, o pensamento original se foi. Se praticarmos diariamente, logo seremos capazes de ficar mais vezes nesse espaço de consciência pura, sem um objeto. Apenas respirando, apenas estando presente: chamamos isso de estarmos naturalmente unificados.

Zazen é uma forma que nos permite praticar a não forma do vazio sem limites. A liberdade que se coloca à nossa disposição através da forma é um dos grandes paradoxos da vida. Quando nos organizamos e criamos uma estrutura, também criamos os meios para nos livrarmos da estrutura. A forma nos ajuda organizando e direcionando nossas energias. Mas podemos viver nossa forma com ânimo leve, com respeito e apreço por seus dons. Essa disciplina sutil – que sedimenta, unifica, deixa – se fluir, é chamada de o portão do dharma da paz e alegria .

Além do zazen e das reverências, há outros aspectos da prática Zen que nos ajudam no caminho. Um deles é a criação de um altar em casa, o que incentiva a renovação do respeito e devoção. Quando colocamos alguma coisa em um altar é para reencontrá-la, guardá-la com estima. Tradicionalmente, nos mosteiros zen, o altar no zendo (sala de meditação) tem como foco uma estátua de Manjusri, o Bodhisattva que representa a sabedoria transcendente. Manjusri segura uma espada que corta as ilusões, limpando, dessa forma, nossas mentes. Ao colocarmos essa imagem em nosso altar, desejamos assumir uma forte energia que nos permita cortar nossas ilusões, nossa ignorância, nossa ganância e nossa raiva. Desejamos clarearmo-nos. Para o seu altar em casa, coloque uma estátua ou imagem de qualquer buda ou bodhisattva que lhe evoque a aspiração de perceber as qualidades - sabedoria, compaixão, paz, que ele ou ela encarna. Você pode colocar uma tigela de incenso e incenso (que é uma boa maneira de marcar o seu tempo de zazen), uma flor, que evoca a beleza transitória, um pouco de água, um elemento de nutrição, e uma vela para iluminar o espaço.

Os Preceitos

Finalmente, porque todas essas práticas levam à realização da nossa interdependência e inter-relação com todos os seres, assumimos a prática dos dezesseis preceitos do Bodhisattva. Esses preceitos não são mandamentos, ao contrário, eles são princípios orientadores para vivermos uma vida de liberdade e serviço. Os preceitos são merecedores de uma vida inteira de estudo e prática. De fato, em algumas tradições Zen, eles fazem parte do estudo formal de koans, com cada preceito apreciado a partir de várias perspectivas. Torne-os seus, tenha intimidade com eles. Ao invés de simplesmente tentar segui-los, incorpore-os da mesma maneira em que você "se torna" o zazen.

Sentado com os Outros

Eu lhe encorajo a intensificar e experimentar a prática zen. Mas, por agora, há mais uma coisa para manter em mente. Embora estejamos tentando lhe dizer o que você precisa para conseguir um início sólido para o estabelecimento de sua própria prática diária, o Zen não é uma prática solitária. Como recitamos ao final de nossa liturgia, "Que possamos perceber juntos o Caminho do Buda".  Sentar-se com os outros, estudar com os outros, trabalhar com outras pessoas, conversar com outras pessoas, tudo isso é parte integrante da vida do zen. Então eu lhe encorajo fortemente a se juntar com os outros sempre que possível. Vá a um centro de meditação Zen ou de um grupo semelhante e sente-se com outras pessoas.

Vamos deixar com Mestre Dogen a última palavra :
O dharma está completamente presente em cada pessoa, mas sem a prática, não se manifesta; sem realização, não é atingido. da paz e alegria.
(Roshi Pat Enkyo O’Hara)