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O terceiro e o quarto versos são semelhantes ao primeiro e segundo. Eles dizem a mesma coisa que o primeiro e o segundo, mas de um modo diferente. “Dentro da escuridão há luz, mas não procure por esta luz”. Na escuridão, ainda que estejamos em uma relação íntima, há a dualidade de homem e mulher. Esta dualidade é a luz. Max você não deveria ver os outros com os olhos da luz apenas, porque o outro lado da luz é a escuridão. A escuridão e a luz são as duas faces de uma moeda.
Somos suscetíveis de ser dominados por idéias preconcebidas. Quando você tem uma má experiência com alguém, você pode pensar, “Oh, ele é uma má pessoa, sempre é mesquinho comigo”. Mas pode não ser assim. Você o está vendo com os olhos da luz apenas. Você deveria saber por que ele é mesquinho com você. Como a relação é tão estreita, tão íntima, ela é mais que uma relação entre duas pessoas. É apenas um. Então, quando ele está zangado, você estará zangado. Quando um está zangado, o outro ficará zangado. Você precisa entender o outro lado da luz que é a escuridão. Então, mesmo que você fique zangado, você não se sentirá tão mal. “Oh, ele está zangado comigo porque somos muito íntimos”. Quando você pensa que ele é mau, lhe é difícil mudar de idéia. Pode ser verdade que ele às vezes é mau, mas exatamente agora você não sabe se ele é bom ou mau. Você tem que ver.
Não nos devemos prender à idéia de escuridão ou luz. Não nos devemos prender à idéia de igualdade ou diferenciação. A maior parte das pessoas quando têm má vontade com alguém acha quase impossível mudar seu sentimento. Mas se somos budistas, devemos ser capazes de mudar nossas mentes de mau para bom e de bom para mau. Se você é capaz disto, “mau” não significa mau, e “bom” não mais significa bom. Mas ao mesmo tempo bom é bom e mau é mau. Compreende? Devemos entender a relação entre nós desta maneira. Eis um poema:
A mãe é a montanha azul
e as crianças são nuvens brancas.
Todo o dia estão juntas
e, no entanto, não sabem
quem é a mãe e quem são as crianças.
A montanha é a montanha e as nuvens brancas são nuvens brancas que flutuam em torno da montanha como crianças. Há a montanha azul e há as nuvens brancas, mas elas não sabem que existem nuvens brancas ou montanhas azuis. Ainda que não saibam, sabem muito bem – tão bem que não sabem.
Essa é a experiência que você terá na sua prática do zazen. Você ouvirá insetos e o córrego. Você está sentando, o córrego correndo, e você o ouve. Mesmo que você o ouça, você não tem nenhuma idéia de córrego e nenhuma idéia de zazen. Você está apenas na almofada negra. Você está ali simplesmente como uma montanha azul com nuvens brancas. Este tipo de relação é completamente esclarecido nesses quatro versos do Sandokai.